(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
169 – Editorial

169 – Editorial

Luís Miguel Ferraz

Esmurrar

Lembrei-me, aqui há dias, de uma das histórias que o padre Américo nos contava nas aulas de Inglês do Seminário, daquelas que davam para passar uma boa meia hora a rir. Não tanto pela história, mas mais pelo contador, confesso.
Mas a história de que me lembrei, apesar da superfície cómica, tem um fundo sério, para não dizer dramático. Reza assim:
Em certa aldeia, era hábito as pessoas apagarem as velas das procissões esmurrando-as contra a parede do cemitério, antes de entrar na igreja. Ora, com o passar dos anos, o muro ficava pior do que o das lamentações… preto, escravunçado, chapado de cera e borrões.
Certo dia, um novo presidente de Junta decidiu dar um ar lavado à terra e vai de mandar limpar o muro do cemitério. Tudo raspado, reboco novo, caiadinho de fresco, ficou branco que até parecia outro. E, para que a coisa assim ficasse, mandou afixar um letreiro a pedir às pessoas que tivessem cuidado com as velas e não voltassem a sujar o muro.
No dia da procissão, foi fiscalizar. Para seu espanto, o muro estava de novo chapiscado de cera!
Revoltado, ia comentando com quem se cruzava sobre a falta de respeito das pessoas, que não respeitam a propriedade pública nem o trabalho do outros. Até que um velho, ainda com a vela acesa, levanta-a orgulhoso contra o muro e faz a ladainha:
– “Olhe, senhor presidente… aqui esmurrou o meu avô, aqui esmurrou o meu pai, e aqui esmurro eu!”.
Não vou dizer por que lembrei de tal história. Para bons entendedores…

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