(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
180 – Editorial | Festas e Tradições

180 – Editorial | Festas e Tradições

Apesar do vai-e-vem do sol e da chuva, o Verão chega no calendário e, com ele, um tempo propício a períodos de descanso, de férias, de festas e tradições.
A nossa freguesia é rica de eventos de convívio, de festas e de iniciativas que ganharam, com o tempo, um enraizamento na dinâmica tradicional da sua agenda social. Essa é uma das suas riquezas e uma demonstração da sua força. Mas pode também ser um factor de “travão” ao desenvolvimento de novas ideias e motivo para desânimo e fraqueza.
Em princípio, é sempre bom manter as tradições das nossas gentes. Mas não podemos deixar de olhar com objectividade para a sua realidade actual. Até que ponto algumas se justificam? Será que ainda cumprem o papel que as tornou importantes? Ajudam a enriquecer a união da comunidade ou são meras expressões em decadência de actos que já não significam nada para a grande maioria? Podem ser reformuladas para renascerem, ou chegou a hora de as deixar morrer com (ainda) alguma dignidade?
Estas são algumas questões que não podemos deixar de fazer. São perguntas que não devem ser vistas como “derrotistas” ou mal intencionadas, mas sim como ajuda a uma reflexão sobre o que fazemos e o que somos como comunidade, para crescermos, fazermos melhor, chegarmos mais além.
Podia falar de várias dessas iniciativas, mas dou apenas como exemplo a oração no mês de Maria e o respectivo encerramento (ver notícia na pag. 3).
O facto é que esta é, nitidamente, uma tradição esmorecida. Ainda não há muitos anos, era uma ocasião para uma grande concentração de pessoas, juntas na oração, generosas nas ofertas, animadas no convívio. Hoje em dia, não passa de um pequeno encontro, muito circunscrito a algumas famílias e pessoas mais devotas de Nossa Senhora.
Vários são os motivos que podemos encontrar para esta realidade. Para começar, é evidente que a prática religiosa está mais reduzida, as pessoas dão menos importância à oração comunitária e aproveitam os fins-de-semana para actividades de lazer, para os passeios familiares, para saírem da rotina que lhes causa enorme stress durante a semana.
Por outro lado, os domingos de Maio e de Junho estão já preenchidos com inúmeras actividades na região e até na freguesia, como as Tasquinhas do Rancho, a FIABA, a Primeira Comunhão e a Comunhão Solene, a festa paroquial da Santíssima Trindade, a Feira do Livro na Batalha, a Feira dos ATL, os encerramentos de ano lectivo e ano desportivo, etc. São várias iniciativas, às vezes nos mesmos dias, que causam dispersão e cansaço nas pessoas, sobretudo nas famílias com crianças. Como dizia, pode ser sinal positivo de dinamismo social, mas pode resultar em excesso de oferta e atropelo de organizações.
A agravar esta situação, tem-se insistido em fazer a oração todos os domingos na Golpilheira e em S. Bento. No ano passado, a Comissão da Golpilheira resolveu não a fazer, convidando as pessoas interessadas a irem a S. Bento. Afinal, a freguesia e a comunidade cristã são só uma, a população é a mesma e não se justifica a divisão em dois grupos de um número já tão reduzido de participantes. Houve quem não concordasse e, este ano, voltou a haver oração mariana nos dois locais. O resultado foi o que se viu: pouca gente em ambos. Apesar de haver um convite especial às crianças da catequese para dinamizarem esta oração na Golpilheira, foram pouco mais de meia dúzia as que apareceram no encerramento. Com tantas actividades, nem o pároco pôde estar presente.
Estas e outras razões levam-nos a questionar se esta “tradição” deve continuar a ser organizada da mesma forma. Não seria mais proveitoso organizar uma oração comunitária mais bem organizada e concentrada apenas num ou dois domingos de Maio, com o envolvimento activo das catequeses, do grupo coral, dos acólitos e de outros agentes da pastoral? Não seria melhor juntar as pessoas num só local, podendo até combinar-se a realização alternada nas duas igrejas (podia ser domingo sim, domingo não; podia ser o primeiro domingo num lado e o último noutro; podia ser um ano numa igreja e outro noutra)? Afinal, o que é mais importante, a insistência numa tradição para dizer que se faz, ou a alteração da sua fórmula de modo a servir melhor os ritmos e as disponibilidades dos fiéis?
Esta é a reflexão que partilho com os leitores neste início de Verão, quando algumas outras situações do género poderão ser motivo da mesma análise. Como disse, espero que sirva apenas como proposta para, em conjunto, pensarmos caminhos de futuro, de crescimento e de união entre todos.

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