(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Jornal da Golpilheira

Em Memória…

Manuel Carreira Almeida Rito

(N. 15.09.1957 • F. 12.06.2020)


A-Deus

Em Fevereiro de 2020

Com a partida do director-adjunto Manuel Rito, acabou uma parte deste Jornal. Nada será como dantes. Há um espírito próprio das coisas que lhe é dado pelas pessoas e o deste Jornal era muito marcado por ele, pelo seu modo de ver as coisas, de fotografar acontecimentos, de entrevistar pessoas, de escrever sobre glórias e lamentos, de defender causas, projectos e ideias. Isso desapareceu e é apenas a isso que dizemos adeus. Ao Manuel dizemos “A-Deus”, isto é: vai em paz, até um dia em que iremos também ao teu encontro no mesmo regaço divino.
As páginas que se seguem dizem mais algumas coisas sobre o Manuel. Mas nunca dirão tudo, nem talvez o mais importante. Isso está no nosso coração e é indizível. Aliás, as centenas de páginas do Jornal nos últimos quase 25 anos dizem muito mais e melhor sobre o Manuel. Estão encadernadas no CRG e na biblioteca municipal, para quem queira consultar. Iremos, com certeza, rever alguns desses textos e imagens no futuro.
Enquanto cá ficarmos, como ele mesmo diria, há que olhar para a frente e continuar a luta, um dia de cada vez. Não se pode substituir uma pessoa como o Manuel, mas podemos pegar no legado dele e manter a construção, procurar outros modos e caminhos, crescer, na medida do possível. É isso que procuraremos fazer, certos de que também ele estará a olhar por nós, a dar-nos força e incentivo, a ajudar-nos a não desistir. Tentaremos ser dignos do seu testemunho e essa será a melhor homenagem que lhe poderemos fazer.

Luís Miguel Ferraz, Director


Como é, Manel, ‘tá tudo?

aaaaaaaaaaaaaaaFoto tirada no Carnaval da Batalha de 2019

Foi assim que te recebi aqui no escritório de casa na quarta-feira. Era assim, de forma simples, que te recebia, enquanto entravas pela sacada, que para ti não era preciso abrir a porta. Eras cá da casa. Tinhas sempre o cuidado de avisar que vinhas, metias a mão por dentro do portão da rua, abrias e eu recebia-te à sacada:
– “Como é, Manel, ‘tá tudo?”
Umas vezes estava tudo bem, outras vezes estava tudo a desmoronar-se. Por norma, era o desabafo:
– “Vai-se indo, um dia de cada vez”.
Nos dias mais cinzentos, contavas-me as tuas histórias, problemas, experiências de dor e desespero profundo. Choravas.
– “Sei o que tenho. O que me dói mais é não conseguir reagir. Quero levantar-me e o corpo não obedece. Quero fazer isto ou aquilo e o cérebro não consegue dar a ordem.”
Eu tentava não chorar contigo, dar-te força, fazer-te acreditar que com a ajuda da família e dos amigos (e de Deus, dizia-te às vezes) irias conseguir. No fim, ficávamos sempre a concordar numa luzinha de esperança:
– “Um dia pode ser que isto vá ao sítio!”
Estavas semanas sem aparecer. Só por telefone íamos partilhando essas conversas, até que, no regresso:
– “Como é, Manel, ‘tá tudo?”
Sorrias de alívio:
– “Parece que sim, vamos a ver se é desta…”
Mas não era sempre assim. Havia aqueles dias de gargalhadas, de acção em todas as frentes, de lutas e irritações, sobretudo quando vias gente parada no teu caminho e no caminho da tua colectividade, da tua aldeia, desta gente que amavas. Também isso te fazia sofrer… sentir que davas tudo e que não havia do outro lado uma resposta de compreensão ou de ajuda. Também aí tentávamos por água na fervura, ver possibilidades de crescimento e de conciliação:
– “Um dia pode ser que isto vá ao sítio!”
Eram sempre emoções fortes contigo, isso é verdade. Mas, fosse qual fosse o espírito do momento, entravas pela sacada adentro:
– “Então, vamos ao gajo?”.
O “gajo” era o Jornal. O “nosso” Jornal. Amavas este nosso Jornal, não era? Isto para ti não era um jornal, nunca foi. Era um acto de amor pela tua terra e a tua gente. Querias enchê-lo de letras, de fotos, de pontos de exclamação como as tuas emoções fortes. Gostavas mais daqueles textos de festa, dos campeões da bola, dos convívios de amigos, da vida do “teu” Centro Recreativo, das histórias das pessoas que vias a fazerem coisas pela “tua” terra. Adoravas escrever que a Golpilheira era grande, enorme, do tamanho do teu coração. Mas, se fosse preciso, também escrevias aqueles artigos de crítica, de desabafo, de “bota abaixo”, como tu dizias. E sempre pelo mesmo motivo, pelo mesmo amor. Cá estava eu para pôr água na fervura, mas nem sempre era fácil… pois não, Manel?
Acabávamos sempre por concordar e nunca nos chateámos. Tu cedias umas vezes, eu cedia outras, a coisa fazia-se. E corria tão bem, Manel!
No meio destas histórias, fomos falando da fé e de Deus, como ajuda única e certa. Não consegui eu ter fé suficiente para te levar por aí. As minhas palavras não te soaram, provavelmente, muito convencidas. Desculpa, Manel, não ter conseguido dar-te mais disto em que acredito. Mas houve quem conseguisse. Deus colocou no teu caminho outro amigo que soube mostrar-te como era isso de viver de fé, de acreditar sem receios nem meias medidas. O milagre aconteceu. Estava a acontecer. Estavas melhor do que nunca. Sentias-te bem, equilibrado, pacificado. Estavas bem contigo e com os outros, sentias, de novo, o gosto de viver.
Na quarta-feira, quando vieste aqui para fecharmos juntos mais uma edição do jornal,
– “Como é, Manel, ‘tá tudo?”,
disseste com a convicção das vezes mais recentes:
– “Tudo na maior!”
Depois, como quase sempre, até quando o ânimo estava mais abatido,
– “Então, vamos ao gajo?”,
atiraste o caderno grosso para cima da mesa, cheio de apontamentos, folhas soltas, papelinhos de várias cores… e começaste a desfilar temas, textos, artigos, a lista do que querias. Entregaste os dois ou três cartões cheios de fotos para eu “sacar”, menos fotos agora, que isto anda parado por causa da Covid. Mas não paraste tu e entrevistaste meio mundo… era tanta coisa, Manel! Disse-te que tínhamos de cortar páginas, que as finanças do Jornal estavam em baixo, tínhamos de reduzir custos. Tu disseste que entendias, que aceitavas o que eu decidisse, mas
– “Isto devia ser agora, isto tem de ser agora, isto já devia ter sido antes…”
Aceitei os teus pedidos, a tua dedicação merecia, tu merecias isso. Tinha programado 32 páginas, ficou com 36. É um Jornal quase todo teu. Das tuas letras, fotos e pontos de exclamação como as tuas emoções fortes. De preocupação com o futuro da tua colectividade, sobretudo. Mas também com um testemunho de vida que estavas a partilhar com todos os leitores, na tentativa de os ajudar em situações semelhantes.
Vai ficar a meio o teu testemunho…
Fechaste o Jornal comigo na quarta-feira, ficou pronta a paginação na quinta. Fechaste a vida na sexta, já não vais vê-lo aqui. Mas já estás a vê-lo primeiro do que todos e podes dizer como costumas:
“- Ficou um espectáculo o nosso Jornal!”
Ainda sem saber como partiste, sei que partiste. Acredito que estarás agora onde todos os segredos são revelados e os teus sofrimentos acabaram de vez. Agora sim, dirás sem dúvidas:
– “Tudo na maior!”
O teu coração grande, sempre à beira de explodir de emoções fortes, sincero, honesto, bom, encontrou o Coração Maior. Tinhas encontrado um vislumbre de resposta, aí tens a tua resposta clara e límpida, na maior das emoções, o Amor.
Entretanto, deixaste-me sozinho com o “gajo”. Isto não vai ser igual, Manel. Bolas, Manel, não era ainda! Mas ambos sabemos que isto do “ainda” é muito relativo. É tudo quando tem de ser, não é? Isto não vai ser igual. Mas tentarei sozinho não deixar o nosso “gajo” partir também. Não há outro Manel, disso tenho a certeza. Nem eu te chegava aos calcanhares de amor por isto. Sabes bem o incentivo que me deste tantas vezes, quando ponderava fechar a página. Pode ser que surjam outros a remediar essa falta que me vais fazer… Seja o que Deus quiser. Tudo será quando tiver de ser, certo?
Neste momento, não tenho muito mais a dizer-te. Não consigo evitar uma lágrima de tristeza e comoção pela tua ausência terrena. Normal. Já chorámos juntos, né? Mas sei que estás e estarás sempre por aqui. Talvez daí possas continuar a ajudar-nos a todos, aos teus familiares e amigos, à tua terra, à tua colectividade, ao teu jornal… faz o que puderes por nós.
Neste momento, ficará retida a pergunta que acredito poder fazer-te, de novo, um dia destes:
– “Como é, Manel, ‘tá tudo?”

Luís Miguel Ferraz (Texto escrito algumas horas depois de nos chegar a notícia…)


Pêsames

José Travaços e Manuel Rito num almoço no CRG

Com a morte de Manuel Carreira de Almeida Rito perdeu o “Jornal da Golpilheira” um dos seus alicerces e perdeu a nossa região um homem bom, prestável, sempre atento ao que se passava à sua volta, escolhendo criteriosamente o que valia a pena registar, só referir e também exaltar, deixando nas páginas do jornal notícias que são tantas vezes crónicas duma época, reflexos de um tempo, memórias que se apagariam facilmente se ele as não relatasse. Tudo feito com isenção, mas também com entusiasmo. E teve a coragem de contar os passos dolorosos da sua doença, uma chamada de atenção para casos como o seu e para a compreensão que lhes é devida.
Foi desde o início o braço direito do Dr. Luís Miguel Ferraz, director e idealizador deste jornal que é um dos melhores da Imprensa Regional Portuguesa, motivo de orgulho para a Golpilheira e para o Concelho da Batalha, sendo um dos responsáveis pela sua reconhecida qualidade.
À sua esposa, aos seus filhos e restante família e ao director do “Jornal da Golpilheira”, os meus mais sentidos pêsames.

José Travaços Santos


Memórias

Futebol foi paixão desde a juventude

Memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis. Memória, segundo diversos estudiosos, é a base do conhecimento, como tal deve ser trabalhada e estimulada. É através dela que damos significado ao quotidiano e acumulamos experiências para utilizar durante a vida.
Assim foram quase 37 anos de milhões de memórias que me proporcionaram experiências inesquecíveis e outras tantas milhares de vivências aos mais diversos níveis: familiar, educacional, social e desportivo, e que me tornaram na pessoa que hoje sou e que espero continuar a ser no futuro. Mesmo as memórias mais sofridas permitiram que criássemos todos uma base familiar muito sólida, e até essas hoje consigo recordar sem grande mágoa e rancor.
Das primeiras memórias que tenho contigo foi quando a Ana Luísa nasceu e o segurança do hospital não me deixou acompanhar-te na visita… chorei como se não houvesse amanhã, pois o senhor em questão não percebeu a importância daquele momento em que nos iríamos encontrar pela primeira vez os quatro… durante anos, senti uma enorme raiva daquele senhor, por me ter privado de sentir a alegria enorme de conhecer a minha irmã…
Mas talvez seja no mundo associativo e desportivo que tenhamos vivido o maior número de experiências, desde os intermináveis domingos desportivos, quando ainda nem se quer se equacionavam campos de relva natural ou sintética (a não ser no campeonato nacional), e no intervalo ou no final do jogo lá vinhas tu, depois de deixar o teu exemplo em campo, dar uns chutos na bola com as tuas filhas; nós ficávamos cheias de pó, mas eramos tão felizes. Gostava tanto de te ver jogar, eras um senhor na defesa da Golpilheira e de vez em quando lá marcavas uns golitos e eu ficava doida, lembro-me como se fosse hoje de teres feito um golo de meio campo… mas que golaço!!!…
Aos jogos do teu glorioso, às idas ao velhinho estádio da luz, fizeste-me conhecer durante anos todos os jogadores de águia ao peito e eu tornei-me numa adepta fervorosa… algo que passou com a idade. Tivemos inúmeras discussões desportivas, que pioraram quando o ‘largatito’ lá de casa começou a opinar também… a mãe até se passava quando começávamos a discutir futebol como se não houvesse amanhã à hora da refeição… A coisa só acalmou quando, a determinado momento, decidi enveredar pela carreira de árbitro, e todos começámos a olhar – aparentemente – para o futebol de uma maneira diferente. No entanto, não perdias a oportunidade de deixar sempre a tua farpazinha: “agora estás sempre a defendê-los”.
A nível associativo, desde cedo me deste a conhecer o Centro Recreativo da Golpilheira, essa casa com tanta expressividade a nível cultural, desportivo e social, pela qual me apaixonei e, como tu, me dediquei durante alguns anos, não de forma tão empenhada e apaixonada como tu o fizeste! Foi por esta via que nos ensinaste a lutar pelo bem-estar da nossa comunidade, a dar-nos gratuitamente aos outros de forma simples, humilde e sem esperar qualquer contrapartida… esta era a tua segunda casa, aquela que, tal como a nossa família, ajudaste a construir desde a raiz e se solidificou ao longo dos anos com maior ou menor dificuldade, apesar dos inúmeros obstáculos que foram surgindo no caminho. Foram festas atrás de festas, jogos atrás de jogos, muitas noites a chegar às quinhentas a casa e algumas (muitas) discussões saudáveis (outras menos) à mistura…
A nível familiar, vivemos momentos inesquecíveis de uma felicidade extrema. Tu e a mãe ensinaram-nos valores tão nobres, mas acima de tudo ensinaram-nos a viver rodeados e dedicados ao amor. Este sempre foi o grande lema da nossa família: podíamos não ter muitas coisas materiais, mas tínhamos amor para dar e vender entre nós, tínhamos dedicação, compreensão, entrega e disponibilidade e, acima de tudo, tínhamo-nos uns aos outros sempre. Juntos enfrentámos das mais duras batalhas durante os 25 anos da tua doença, chorámos muito, revoltámo-nos vezes sem conta, perdemos a paciência, mas mantivemos a resiliência e, no último ano, estávamos a viver estórias incríveis, conversas intermináveis e momentos inesquecíveis… Finalmente, tinhas-te encontrado e voltavas a ser o pai e o marido dos meus tempos de infância e início de adolescência, foi como se tivesses feito as pazes com a vida e começavas finalmente a desfrutar dela. Nos últimos tempos, brincavas com os teus netos da mesma forma que brincaste comigo quando eu era ainda a criança, principalmente com a Alice, que foi uma sortuda e aproveitou o avô tão bem! Ainda bem que assim foi… o Alexandre e o Dinis não se vão lembrar da forma como brincaste com eles; e tu andavas tão radiante com estes dois seres! Mas de certeza que todos nós lhes vamos falar de ti e do homem que tu eras e, tal como nós, vão sentir um orgulho estonteante do avô Nelito.
A vida nem sempre é como desejamos, não dura o tempo que queremos, mas cabe a nós sabermos aproveitá-la da melhor forma possível. Tenho saudades de tantas memórias que vivemos, mas tenho mais saudades ainda do almoço que me fazias, a mim e à minha irmã, à terça e à quinta-feira, e que bem que te estavas a portar na cozinha! Eram duas horas por semana só nossas, vividas a três e, durante as nossas gravidezes a cinco… tu tratavas-nos tão bem…
Ainda bem que grande parte das memórias deixaste em fotografias até perder de vista… todas elas têm um lugar muito especial no meu coração.
Espero encontrar-te um dia para darmos um forte abraço, abraço esse que a pandemia nos roubou… da mesma forma que a vida te levou de forma abrupta e quando ainda tinhas tanto para viver.

Vera Rito, filha


Olá…

Na horta com a neta

Não sei bem como começar este texto, mas cá vai…
Eu sou a Ana, a filha do meio de três filhos do Manuel Rito. E como esta edição passa por partilharmos bons momentos passados, passo a perguntar: Quem é que não se lembra de me ver já bem crescida ao colo do meu pai? Ou mesmo presa às suas pernas nas festas da aldeia? Felizmente, o meu pai deu-me colo o quanto a vida lhe permitiu e soube-me transmitir os bons valores da vida, assim como a minha mãe.
Ainda nestas recordações de infância, vêm-me à memória as tardes de domingo passadas a ver a Golpilheira, futebol 11, no campo da Batalha, ou mesmo a ir andar de bicicleta ou patins junto ao cavalo, os tremoços e as pevides também não faltavam. Neste âmbito, também posso recordar os torneios no campo das barrocas, os jogos solteiros vs. casados, onde íamos a correr apanhar bolas, cada vez que uma delas se perdia entre as ervas. E até me vem o cheirinho da bela da bifana ou entremeada grelhada no pão. Que boas recordações…
Passando agora para um meio familiar, posso partilhar que em 2016 nascia a primeira neta, que orgulho que o meu pai tinha em ser avô, apesar dos altos e baixos da doença, brincou muito e ultimamente eram felizes na horta a plantar, a regar e a chapinhar na lama. Esta neta carinhosamente o trata por avô Nelito e gosta de ir ver uma estrelinha a brilhar no céu e o seu desejo é que ele esteja bem e feliz.
Este último ano foi, sem dúvida, maravilhoso… o meu pai encontrou-se novamente enquanto pessoa e estava mais feliz do que nunca. Feliz, também, porque o meu irmão atingiu objectivos a que se tinha proposto. E, claro, porque ganhou mais 2 netos no início do ano. Pena a pandemia nos ter roubado momentos de felicidade. Mas, mesmo assim, foi incrível a forma como ele interagiu com os netos, não desperdiçou um momento que fosse e enchia-se de alegria cada vez que era correspondido.
Não posso deixar de lembrar que o meu pai era o homem da fotografia… ele adorava fotografar todos os momentos. Quem é que já recebeu o belo do envelope com uma fotografia que nos fazia recuar no tempo? Agradeço muito o facto de o meu pai, todas as vezes que nos encontrávamos, fazer questão de agarrar na máquina e captar todos os pequenos e grandes momentos em família.
Havia muito mais para partilhar… mas fica talvez para uma próxima oportunidade.
Sei que ele está, com toda a certeza, a olhar por nós, onde quer que se encontre.
Até um dia,

Ana Luísa Rito, filha


O meu amigo “Manel”

O fato que mais gostava de envergar…

Conhecia o Manuel Rito há mais de 30 anos.
A amizade que tinha com ele, até há três anos atrás, resumia-se a meros encontros casuais, ocorridos no desempenho das minhas obrigações profissionais. Em 2017, e após a minha saída da autarquia, comecei a encontrar o Manel mais frequentemente no Jardim dos Infantes, enquanto eu caminhava por lá, cruzando-se bastantes vezes comigo, quando passava por ali, ao serviço do seu CRG.
Ele era um indivíduo comunicativo e normalmente metia conversa comigo. As conversas eram as normais: ele tentava saber o porquê do meu recente despedimento da autarquia e outros assuntos, os normais para duas pessoas do mesmo ano.
A amizade foi crescendo entre nós, e até me atrevo a dizer que fomos criando uma grande empatia mútua, que fez nascer e fortalecer uma grande e sincera amizade entre nós.
Em Julho de 2019, a depressão que afectava o Manel desde há perto de trinta anos voltou a apoderar-se dele e com bastante força e ele foi mais uma vez hospitalizado.
Ao saber da recaída do Manel e da sua doença, as minhas visitas a sua casa passaram a ser um hábito, e foram-no durante bastantes dias, nunca dando o meu tempo por mal empregue, aprofundando assim muito mais a nossa amizade.
Durante muitos anos, o Manel foi vítima da depressão, por vezes com altos e baixos, mas a Gracinda foi uma mulher de armas e sempre o ajudou, mantendo-se sempre firme e ao seu lado.
A vida deles não foi nada fácil, nos anos que viveram juntos, isso vos garanto.
O Manel era um homem bom e também era um bom homem.
E foi por ser um bom homem que a depressão o atingiu pela primeira vez, há perto de 30 anos, ferindo-o de morte, ferida essa que ele nunca mais conseguiu sarar totalmente.
Essa doença apoquentou-o por ele ser um homem bom, pois como era um bom homem, acreditou nas pessoas que se diziam suas amigas. Essas mesmas pessoas foram as primeiras a apunhalá-lo pelas costas, traindo-o. Ele como homem bom que era, nunca conseguiu esquecer essa traição dos amigos.
Muitos gostavam do Manel, mas muitos lhe viraram as costas, e até o apunhalavam constantemente.
Ele bateu a muitas portas, mas todas se lhe fecharam, e outras fechavam-nas quando viam que era o Manel.
Muitos que não o ouviram nem lhe deram a mão quando foi preciso, agora logo após a sua morte, foram os primeiros a pôr-se em bicos de pés para serem vistos, até porque, quer se queira quer não, ele foi um Homem com um H grande, pelos valores que defendeu para a sua Golpilheira, e pelo que deu ao seu CRG, e portanto tinham que se colar agora a ele, que havia partido para o eterno.
Enfim, é o mundo em que vivemos, mas que a continuar assim, nunca mais será melhor, porque os homens não querem.
Agora, quase passado um ano em que ele tinha conseguido derrotar a depressão como nunca, que a ferida provocada pela depressão estava quase sarada, que andava bem, bem com ele próprio, com os seus familiares e com os seus amigos, é que o seu coração o traiu. Ele transpirava alegria por todos os seus poros. Deus quis levá-lo quando ele estava bom e curado, e após ter vencido a depressão como nunca. E até posso dizer que os seus filhos o viam agora como já não o tinham visto há muito tempo, e até me atrevo a dizer que o filho mais novo nunca o tinha visto assim, pois quando nasceu já o seu pai padecia e sofria com a depressão.
Enfim, são os desígnios de Deus, que nós não entendemos, nem nunca vamos entender, mas, se calhar, Deus queria-o no Céu, tal qual ele era e foi, o autêntico Manel.
Tu dizias-me, na terra, que eu era para ti o que tu agora és para mim, no Céu.
Até já, meu amigão, e obrigado pelo percurso de vida que juntos fizemos.

Dr. Eusébio


Um grande senhor!

Festa de despedida de Liliana: Manuel Rito agradece o seu trabalho e carinho pelo CRG

Não sei há quanto tempo conheço o Sr. Manuel Rito, nem me lembro do primeiro dia em que o vi ou lhe falei. Lembro-me bem, isso sim, das inúmeras vezes, desde 2006, em que o vi trabalhar em prol do C. R. Golpilheira e, no meu caso particular, no Hip Hop e na Ginástica. Não havia festa ou evento onde não estivesse, sempre com a sua máquina fotográfica, a registar todos os momentos. Como se não chegasse, escrevia as notícias no Jornal da Golpilheira ou, ainda mais impressionante, passado uns anos, presenteava-nos com uma fotografia nossa impressa (no meu caso, foram muitas…).
Falei com ele de inúmeros assuntos e foi ele o responsável pelos grupos de Hip Hop terem uma moldura no corredor do CRG, onde estou eu, o professor David Brás, e inúmeros alunos… Já não se fazem seres humanos assim!!!
A última conversa que tive com ele foi via messenger… falámos da pandemia e da situação que atravessávamos. Mais uma vez foram sábias as suas palavras… “Dizíamos que não tínhamos tempo… agora, ‘obrigados’, que tenhamos tempo para reflectir no que andamos aqui a fazer… Conheci uma pessoa, muito mais velha do que eu, com uma vida muito activa a nível dos negócios e trabalhos para a comunidade. Disse-me um dia… «A palavra tempo não existe no meu vocabulário, eu tenho tempo para aquilo que quero. Nós é que temos de mandar no dinheiro e no tempo e não estar escravos dele»… Que nos sirva de lição”…
Quando soube da morte dele fui ler e reler… parece uma despedida, uma última lição que ele me ensinou… entre tantas outras…
O Manuel Rito pode ter vivido menos do que todos gostaríamos, mas todo o tempo que viveu fê-lo com dedicação extrema aos seus e à comunidade, como já não se vê. Tentou ultrapassar as adversidades que a vida lhe colocava e não se rendeu; pelo contrário, respondia com a dedicação a causas.
Dizem que um Homem só morre quando a última pessoa se lembrar dele. Por todo o bem que fez a tantos, inclusive a mim, viverá muitos anos!!!

Liliana Ramos (professora de Hip Hop e ginástica no CRG entre 2006 e 2018)


Impressões

A fazer do discurso do 50.º aniversário do CRG

Pedem-me que diga algo sobre o Manel mas eu sobre o Manel pouco tenho a dizer. Pouco sei dizer. Qualquer palavra por mim proferida ficará sempre aquém do que o Manel representou para mim, para a minha família – o meu pai, o meu pai, tanto o meu pai gostava do Manel – e para a terra em que nasceu. O Manel era a terra em que nasceu. A última vez que o vi, que o vinha vendo talvez ao longos dos últimos anos, foi, era, nas festas da Golpilheira – de máquina fotográfica a tiracolo, lá andava ele, feliz, registando os momentos mais marcantes e/ou que ele considerava também mais marcantes. Cumprimentávamo-nos com um sorriso, uma breve troca de palavras, e deixávamo-nos ir – também não era preciso mais, o Manel era da casa. Vinha sabendo da sua profunda tristeza, de tempos a tempos, da sua falta de ânimo, da doença que o atormentou. Nem por isso o Manel deixou de ser o Manel, nunca (nunca a doença é maior que a pessoa que ela atormenta, nunca). O Manel, quem ele era nos outros dias, quase todos então, talvez, tão valente, tão capaz; voluntarioso; mobilizador. É está a ideia que tenho sempre do Manel. Apesar de pouco nos vermos ao longo dos últimos anos. E decerto não cometerei erro de maior se disser que ele amava a sua terra como ninguém. Poderão outros amá-la ou tê-lo amado igualmente, mas mais que ele não erro se disser que não. O Manel era uma luz – não: o Manuel é uma luz – as pessoas, principalmente as nossas pessoas, não morrem por a morte ter vindo. Que me perdoem, agora; nada mais poderei dizer; nada mais eu sei dizer. Eu tinha desejado o silêncio. Mas foram-me pedidas umas palavras. Ei-las. Parcas. As minhas. Eu que só sei falar do quotidiano; de assuntos comezinhos, pequeninos, banais. Eu que só navego em águas baixinhas.
Um abraço, outro, à sua família. À Gracinda, aos meninos – para os pais os filhos serão sempre os meninos -, aos manos… E a ti, Luís Miguel, também. Por este bonito projecto, que era de ambos.

Luísa M. Monteiro


À família de Manuel Rito

Encontro de antigos professores e alunos, que organizou, em 2002 (com as professoras Cândida e Maria Luísa, que tanto admirava)

Foi com espanto e dor que recebi a notícia, através do Frazão, do que havia acontecido ao Manuel Rito.
Não pude conter as lágrimas e um aperto no coração!
Estais a passar por um mau bocado, uma grande tristeza e dor. Tenho a certeza que está junto de Deus, velando por toda a família e por todos nós, pois era bom, estava sempre pronto a ajudar todos os que precisavam.
Vibrava com muita alegria quando falava da família, especialmente dos netinhos e de um modo particular dos dois últimos que nasceram recentemente. Tinha partilhado comigo esse momento, pouco tempo antes.
Que Deus vos abençoe e vos ajude a ultrapassar este momento difícil.

Manuel é o teu nome,
Aluno da Golpilheira.
Nunca me esquecerei
Uns momentos vividos
Em comum no recreio
Libertos de aulas e repressões.

Cada dia aí passado
Acolhendo os meus alunos,
Representavam uma nova vida
Repleta de trabalho.
Eu, brincando convosco,
Ia matando saudades,
Recordando com emoção, a
Aldeia donde partira.

Rostos bonitos e alegres
Infinitos de amor.
Tudo vivia com alegria sem fim,
Onde sentia que gostavam de mim.

A sempre amiga e ao dispor,

Maria Cândida Martinho (Professora, Abraveses)


Partida… Saudade

De um menino bom, bonito e aplicado que conheci há largos anos, surgiu um Homem trabalhador, honesto, justo, sensível, dedicado a causas, inteligente… e muito mais adjectivos poderia aplicar ao perfil do já saudoso Manuel Rito. E não é por já ter partido desta vida terrena que tenho esta opinião.
Apesar da surpresa e tristeza que a sua morte me causou, sinto algum consolo no fato de ter tido oportunidade de lhe manifestar a minha admiração, quando lhe escrevi a propósito de um dos artigos que publicou no Jornal da Golpilheira. Era um Homem puro e sincero. Quando me respondeu, começava: “querida professora Maria Luísa”, o que me sensibilizou imenso – talvez pelos 90 anos que já tenho – e tive vontade de lhe voltar a escrever, mas, há sempre um mas… sabendo que os seus tempos livres eram escassos, não o fiz. Hoje, estou arrependida e muito triste por não o ter feito, mas nada posso mudar.
O nosso Manuel Rito partiu, já não pode dizer carinhosa e orgulhosamente que já era avô, ou que tinha estado na minha sala de aula uma ou duas semanas, quando lhe dizia que sempre admirei muito as suas qualidades humanas e intelectuais desde infância, apesar de não ter sido meu aluno (nessa altura só trabalhava com as meninas).
Guardo com carinho as suas cartas e desejo veementemente que a sua família consiga arranjar a força suficiente para enfrentar tão dolorosa perda.
Com sinceridade, admiração e muita saudade,

Maria Luísa Guiomar (Professora)


Ao Manuel Rito

A apresentar o Festival de Folclore da Golpilheira

Manuel Rito, primo e amigo
partiste quando nada o fazia prever
mas o povo da Golpilheira
nunca mais te irá esquecer.

Juntos brincámos em crianças
em tempos de outrora
brincávamos muitas vezes
em casa da Avó Aurora.

Na escola ainda me fostes encontrar
juntos andámos a estudar
para mais tarde nos juntarmos a trabalhar
para a nossa terra ajudar.

Na colectividade juntos continuámos a trabalhar
na direcção e nas secções
tudo fizemos para as continuar
quando tinha alguma dúvida a ti ia consultar.

A Golpilheira ficou mais pobre, no jornal se vai notar
muitas fotografias vão ficar por tirar
muitas páginas por escrever
muitas histórias por contar.

Que Deus te dê um bom lugar no céu
e de nós tenha compaixão
para sempre ficarás guardado
no nosso coração.

Manuel Rito Ferraz


Homenagem

Que orgulho ele tinha nesta foto, a marcar o feito do futebol de 11 da Golpilheira, sagrando-se campeão distrital da II Divisão, na época de 1997/1998!

Desse bichinho, do que trazias contigo,
Entendi, esse imenso das tuas emoções.
Dentro dos teus olhos, um olhar amigo,
Juntos a chorar, na procura de abrigo,
Não esquecerei, a razão de tais serões.

Embalado calor, amizade de diamante,
Valorizo este senhor, a cada momento.
Pelas conversas e do valor importante,
Sendo ele verdadeiro, a cada instante,
Mesmo, com o coração em sofrimento.

Esta é a ligação que a vós posso levar,
Enfim, depois de tanto termos passado.
Deste amigo, só a vida o pode explicar,
De companheiro naquele perfeito lugar,
Inspirada felicidade de nos ter honrado.

Significado ilustre, de grande felicidade,
Aquele gesto de carinho mais profundo.
Como seu amor existiu algo de verdade,
Nos transmitiu o gesto da sua amizade,
Por nos querer abrir portas ao mundo.

Viver na busca de memórias perdidas,
Mas o seu reconhecimento fica a valer.
No imenso de tantas coisas conseguidas,
No sonho de realidade de nossas vidas,
Na esperança de novo filho ali nascer!…

Inácio Grosso Valério


Até sempre…

Conheço o Manuel Rito há cerca de 35 anos e sempre o admirei pela frontalidade e pelo empenho na defesa da sua terra. Fomos amigos e porque éramos amigos e porque era muito frontal não se inibia minimamente de criticar o que era criticável e de reclamar intervenções para a sua terra ou para a sua associação. Um dos investimentos pelo qual lutou e que originou muitos telefonemas com sugestões foi o pavilhão gimnodesportivo.
Foi-se embora muito cedo um bom amigo, que deixa imensas saudades. Até sempre Manuel Rito.

António Lucas


Dinamismo

Na última edição deste jornal, decidi escrever sobre a qualidade vida que temos na nossa terra. A certa altura, referi: “Começando na colectividade detentora deste jornal, pelo seu forte dinamismo e proatividade, nas vertentes desportivas, culturais e sociais, passando pelas diversas tradições religiosas e terminando na união das nossas gentes em torno de uma identidade comum”.
O Manuel Rito representava tudo isto. A Golpilheira sentirá a tua falta.

André Sousa


A viga-mestra do Centro

O Centro Recreativo da Golpilheira está de luto. A Golpilheira está de luto; acabou de falecer um golpilheirense de gema que deu garantidamente 40 anos da sua vida ao Centro Recreativo, sem procurar interesses pessoais. Trabalhei com ele neste Centro cerca de 12 anos. Amigo dos seus amigos, granjeou conhecimentos sempre com o pensamento no Centro Recreativo. A viga-mestra do Centro Recreativo foi abaixo. Esperamos que haja alguém com a mesma determinação, o que será difícil.
O Manuel Carreira Rito merece um galardão, merece um verdadeiro Quadro de Honra.
Aos seus familiares e ao Centro Recreativo da Golpilheira, as minhas sinceras condolências.

Manuel Gomes João


Adeus a uma pessoa inesquecível

Naquele dia, àquela hora
o bater do teu coração terminou!
Num silício tão profundo,
o amor de Jesus te chamou.

Aos familiares, nesta
hora difícil de pesar,
é preciso serem corajosos
para algo superar.

O povo da freguesia da Golpilheira
e os arredores
o adeus desse dia jamais será esquecido,
em muitos corações ficarás para toda a vida.
Sinceros votos de pesar e muita coragem,

Cremilde Monteiro e seus pais


Alma boa que partiste

Num eterno segundo
Parte-se deste mundo
Num eterno lembrar
Num eterno chorar

Alma boa que partiste
Centelha de luz viste
Quem dos teus te conhecia
Quem em ti, se revia

Alma boa, onde moras
Que deixastes sem demoras
No teu eterno Centro
Alma boa por dentro

Nessa eterna indagação
Alma boa de coração
Homem eterno da aldeia
Alma boa de casa cheia

Vaz Pessoa


Senhor Rito… nem acredito

Meu coração… chora de comoção.
Minhas lágrimas se escorrem na minha face.
Senhor Rito… nem acredito.
O meu agradecimento por sua amizade e por sua sinceridade.
Nunca soube nem posso afirmar que ou se o céu existe.
A única certeza é que existem homens bons, que tornam este mundo infernal num mundo melhor.
Essas almas boas que partem.
O senhor era uma alma boa e as almas boas nunca morrem.
As almas boas aguardam por almas boas…
…aguarde por mim, senhor Rito… e por todas as almas boas.

Fernando Jorge Vaz Machado


Flores feitas pela Amélia (Melita) para o seu amigo Manel…


Voto de Pesar da Câmara e Assembleia Municipal da Batalha

A Câmara Municipal da Batalha, na sua sessão de 15 de Junho, aprovou por unanimidade o seguinte voto de pesar, proposto pelo seu presidente, Paulo Santos:
«Considerando que o nosso conterrâneo Batalhense, natural da freguesia da Golpilheira, Manuel Carreira Rito, faleceu no passado dia 12 de Junho;
Considerando que Manuel Carreira Almeida Rito esteve longos anos ligado ao Centro Recreativo da Golpilheira, tendo participado activamente na construção das suas instalações, integrando por vários mandatos as direcções que se sucederam, e mais directamente ligado às secções de atletismo, futebol e futsal;
Considerando que, mais recentemente estava ligado à seção de Veteranos de Futebol de 11;
Considerando que desde 2001, era director adjunto do Jornal da Golpilheira, onde colocava o seu cunho pessoal, nos textos e nas fotos de monumentos emblemáticos, que da vida da freguesia e do concelho, não se cansava de registar;
Considerando que se tratava de pessoa afável, de grande humildade e simplicidade, sempre disponível para ajudar nas actividades comunitárias, merecedor do carinho de todos que com ele tiveram oportunidade de conviver e partilhar momentos da vida da Golpilheira;
Considerando a sua prematura e inesperada partida no passado dia 12 de Junho, deixando um vazio na Comunidade da Golpilheira e em todos os que o conheciam e que, de uma ou outra forma, com ele privaram;
Assim, como expressão de uma justa homenagem, tenho a honra de propor que a Câmara Municipal da Batalha delibere aprovar um voto de pesar pelo falecimento de Manuel Carreira Almeida Rito, comunicando à sua esposa e filhos sentidas condolências pela perda do seu ente querido, bem assim expressando a mais sentida solidariedade ao Centro Recreativo da Golpilheira e ao Jornal da Golpilheira, pelo falecimento de um dos seus mais distintos elementos.
A Câmara Municipal da Batalha delibera, por unanimidade, manifestar profundo pesar e consternação pelo falecimento de Manuel Carreira Almeida Rito, e apresenta a toda a sua família e amigos as suas sentidas condolências, bem assim expressando a mais sentida solidariedade ao Centro Recreativo da Golpilheira e ao Jornal da Golpilheira, pelo falecimento de um dos seus mais distintos elementos.»
Também a Assembleia Municipal, em sessão de 22 de Junho, aprovou por unanimidade um voto de pesar pelo falecimento de Manuel Carreira Rito. O proponente, deputado Luís Ferraz, sublinhou “o papel activo e decisivo deste homem no desenvolvimento social, cultural, desportivo e humano, não apenas na freguesia da Golpilheira, mas no concelho da Batalha e na região de Leiria”. Concretizando, lembrou que “foi dirigente associativo, promotor cultural, educador de gerações de jovens através do desporto, mobilizador social pela promoção e difusão dos valores em que acreditava. As causas que defendia tornavam-se evidentes nas centenas de textos que escreveu, sobretudo no Jornal da Golpilheira, visando, preferencialmente, a defesa das tradições, da etnografia, da educação para os valores humanos, do associativismo, do desportivismo, da paixão pela vida ao serviço do bem comum. E mostrava-o no concreto da sua acção, envolvendo-se em múltiplos projectos e iniciativas, dentro e fora da sua freguesia, dentro e fora da sua associação. Foi também autarca, tendo sido candidato à Junta da Golpilheira e membro daquela assembleia, sendo aliás um dos impulsionadores da criação desta freguesia. Era conhecida a sua doença, que nunca o levou a parar. Voltava sempre… e podemos dizer que foi o serviço público que o levou a desgastar-se completamente”.


Voto de Pesar da Junta de Freguesia

A sessão da Assembleia de Freguesia da Golpilheira, no dia 29 de Junho, iniciou-se com a aprovação, por unanimidade, de um voto de pesar pelo falecimento deste golpilheirense. Nas palavras do Presidente da Mesa, José Guerra, “foi um homem que se dedicou ao Centro Recreativo, ao Jornal, à Igreja e à Freguesia, perdendo a sua vida pela causa pública, e vai fazer muita falta a esta terra. Seguiu-se um minuto de silêncio em sua memória e uma salva de palmas em reconhecimento da sua entrega.


Consternação

Reunião extraordinária dos órgãos sociais do CRG, após o falecimento do Manuel Rito e para preparar o seu funeral, no dia 15 de Junho, terá sido das mais dolorosas de sempre. Fez-se um minuto de silêncio, terminado com um aplauso, e partilharam-se algumas memórias. Houve choro inevitável, mas houve também sorrisos por se lembrarem algumas histórias divertidas em que o Manuel Rito estava sempre presente. A pandemia obrigou à contenção, mas a seu tempo virá a oportunidade para o homenagear convenientemente…


Agradecimento

Agradeço a todos aqueles que se quiseram associar à dor provocada pela perda prematura e inesperada do meu marido e pai das minhas duas filhas e do meu filho.
A todos vós que de qualquer maneira nos fizeram chegar as vossas mensagens, pelos mais diversos meios, deixamos o nosso agradecimento mais profundo e sincero.
A nossa dor é bastante grande e profunda, mas estamos convictos que ele foi para um bom lugar e que, sem o apoio de todos vós, essa mesma dor seria muito maior e mais difícil de ultrapassar.
Deus quis levá-lo, quando ele estava mais saudável, mais alegre e mais eufórico e com mais vontade de viver, para assim no céu ficar mais o Manel, tal qual o conheci.
Um eterno bem-haja para todos vós.

Gracinda Rito, esposa


A vida

Este texto foi enviado pelo Manuel Rito para publicar no Jornal, alguns dias antes de falecer, com o seguinte comentário: “Nas voltas pelos meus arquivos, encontrei este texto, que terá sido lido numa das festas da escola no salão de festas do CRG, há alguns anos. É um tema mais actual do que nunca, por isso o trago aos leitores do nosso Jornal. Manuel Carreira Rito”.
Aqui o publicamos, dedicado ao Manuel Rito, que terá encontrado a vida mais preciosa, na eternidade, em que acreditava:

A vida é oportunidade: Aproveita-a.
A vida é beleza: Admira-a.
A vida é um dom: Aprecia-o.
A vida é um sonho: Realiza-o.
A vida é um desafio: Aceita-o.
A vida é um dever: Assume-o.
A vida é um jogo: Joga-o.
A vida é cara: Preserva-a.
A vida é um tesouro: Conserva-o.
A vida é amor: Saboreia-o.
A vida é um mistério: Aprofunda-o.
A vida é uma promessa: Cumpre-a.
A vida é tristeza: Ultrapassa-a.
A vida é uma canção: Canta-a.
A vida é uma luta: Trava-a.
A vida é uma tragédia: Enfrenta-a.
A vida é uma aventura: Ousa-a.
A vida é sorte: Merece-a.
A vida é preciosa: Não a destruas.
A vida é vida: Luta por ela.


Funeral foi um último adeus emocionado

Uma das piores consequências desta pandemia é não podermos estar com familiares e amigos quando queremos. Uma das mais dolorosas é não podermos despedir-nos deles quando partem desta terra.
O funeral do Manuel Rito teria, com certeza, uma multidão a querer acompanhá-lo no último momento. Por causa das actuais imposições de distanciamento social e do aconselhamento a não se promoverem ajuntamentos, muitos não vieram. Ainda assim, algumas centenas não resistiram a marcar presença, espalhando-se pelo adro da igreja e pelas ruas até ao cemitério.
A maioria esperou junto ao Centro Recreativo, onde o carro funerário parou alguns instantes. Apenas um minuto de silêncio significou todas as palavras que muitos puderam dizer interiormente. “Obrigado”, uns. Talvez “desculpa”, outros. Respeito, admiração, reconhecimento, com certeza, todos.
Enquanto a bandeira subiu da meia haste até ao topo, o pensamento não podia deixar de ser outro do que o da plena justiça daquele gesto numa associação que, nalguns momentos mais conturbados da sua história, teve no Manuel Rito o pilar que nunca cedeu e que aguentou ventos e tempestades. Era o homem que assumia a direcção quando mais ninguém queria, o homem que pegava na vassoura quando via lixo no chão, o homem que pegava na carrinha para transportar atletas quando mais ninguém o podia ou queria fazer, o homem que se irava quando alguém falava mal do “seu” clube ou não o apoiava como ele achava que era merecido. E era também o homem que se afastava e jurava não mais voltar, quando se sentia incompreendido ou quando via o “seu” Centro ir em direcções com as quais não concordava. Mas… era sempre impossível não voltar, não estar presente, não se empenhar logo de seguida, de novo, e sempre com o mesmo amor à “casa”, a sua segunda casa – quantas vezes a primeira. E fazia-o porque, para ele, o Centro era o embaixador e o aglutinador da Golpilheira, e ambos eram a mesma coisa, a terra que amava. Era, por isso, talvez, o homem que envergava com mais orgulho o emblema do CRG, fosse quando dele falava a conhecidos e desconhecidos, fosse na lapela da camisola ou do fato de treino, o fato com que melhor se sentia e que melhor lhe assentava. Foi este o último sítio donde saiu e era da casa o último veículo que conduziu, antes de sucumbir precocemente ao peso da vida.
A longa salva de palmas que se seguiu significou isso tudo e quem sabe quantos mais sentimentos. Aquele aplauso foi para o espírito e a personalidade combativa do Manuel Rito, que ficarão colados àquelas paredes enquanto estiverem de pé.
O seu corpo seguiu para o cemitério, onde a saudade bateu mais forte e a emoção tomou conta dos muitos presentes. Mas a sua alma continuará a viver na eternidade reservada aos homens bons. Quem acredita em Deus, como ele acreditava, sabe que terminou uma passagem breve para um destino pleno e sem mais dores nem fracassos. Uma passagem onde só o coração conta e todos os defeitos se desfazem. Um destino onde continuará, com certeza, a velar pela sua Golpilheira. Foi isso que celebrámos no início do funeral, na igreja que ele também servia com o mesmo amor, sobretudo nos últimos anos. E é isso o mais importante, estar em oração por ele, para que Deus o acolha e lhe dê felicidade eterna, e estar em oração com ele, para que a sua terra que tanto amava continue a procurar caminhos de desenvolvimento e de paz.

Luís Miguel Ferraz


O Jornal da Golpilheira precisa de ti!

O director-adjunto Manuel Rito era mais do que um braço direito na produção deste jornal. Era um apaixonado pelo trabalho que nele fazia, tal como por tudo o que significava promover a sua terra e divulgar os seus valores. Nos últimos tempos, algumas das nossas conversas eram sobre a possibilidade de cativarmos gente mais nova e motivarmos outros a colaborar no jornal. Comentava comigo que não percebia como os seus conterrâneos não entendiam a importância de termos um jornal onde podemos divulgar as nossas notícias e opiniões e não o aproveitassem para expressar a sua voz. De facto, com o tempo, habituamo-nos a ter as coisas por adquiridas e, havendo quem as faça, deixamos que assim corram. A sua partida mostrou-nos que nada está adquirido, a começar pela própria vida. E que é na obra que fazemos que deixamos a nossa pegada de memória para os vindouros.
A melhor homenagem que lhe podemos fazer é continuar o seu trabalho. Também por isso, o Jornal irá tentar criar uma equipa de voluntários que possam colaborar, escrevendo, fotografando, filmando… ajudando a dar mais diversidade às suas páginas, redes sociais, etc. Os interessados poderão contactar-nos pelo email geral@jornaldagolpilheira.pt ou na página de facebook do jornal, para marcarmos um encontro no final deste Verão.

Contamos contigo!



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3 Comments

  1. Júlio Ribeiro órfão

    Bom amigo. Batemo-nos por causas comuns, partilhámos os mesmos valores, cultivámos uma amizade desinteressada mas sempre cúmplice quer nos tempos de saúde, quer na doença. Restam-nos as “marcas” da sua dedicação, a boa memória do Manuel Rito e a amizade com a sua família que perdurará. Até um dia…

  2. José Eusébio

    O MEU AMIGO MANEL RITO
    “MANEL”, volvidos todos estes meses após a tua morte, a Golpilheira para mim nunca mais foi a mesma. Sinto a falta que tu fazes lá.
    Por vezes, em contemplação, nas minhas orações, nas minhas corridas e caminhadas por aí, e nos meus pensamentos, em silêncio, dou comigo a verter lágrimas por ti.
    E por ti, não com pena de teres partido, pois tenho o meu coração tranquilo porque te acompanhei e nessa caminhada te ajudei e sei que estás em bom lugar e a velar por mim, e por nós, pela tua família toda, pela tua esposa, pelas tuas filhas e filho, e acima de tudo pelos teus netos que eu sei que os adoravas e que eles eram a pupila dos teus olhos.
    Julgo que talvez, por teres partido da maneira que o fizeste, assim tão bruscamente, sem ninguém contar, sem avisares ninguém, sem te despedires, e quando andavas tão bem.
    Tive a sorte de ter estado contigo dois dias antes de partires, pois Deus mandou-me parar em tua casa, onde me disseste o que andavas a fazer e também me disseste que a tua casa estava sempre aberta, de portas e janelas escancaradas para eu entrar por onde quisesse.
    A tarefa que tu tinhas iniciado e que Deus não te deixou terminar, pois te levou tão bruscamente, Deus deu-me a coragem, a força e a sabedoria para a terminar Manel.
    Eu nesse dia perguntei-te o que tu andavas a fazer, e tu disseste-me, perguntando-te se precisavas da minha ajuda, ao que me respondeste que não, mas que sabias se fosse preciso, eu estava lá para te ajudar nessa tua tarefa.
    Afinal a minha ajuda foi necessária, por motivos que nem eu imaginaria na altura, desculpa Manel.
    Não queria que fosse por esse motivo, mas Deus quis assim.
    Descansa em PAZ, Manel, pois tu querias ajudar o próximo, como ele te ajudou, e AJUDASTE.
    TU FOSTE CAPAZ e CONSEGUISTE.

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