(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Jornal da Golpilheira

História

Das Duasuma – Jornal da Golpilheira

Uma história escrita em 100 edições

(Publicado na edição n.º 100 – Set. 2009)

Uma conversa

Estávamos no início do Verão de 1996. O calor e calma noticiosa, tão típicos desta época, dão azo a conversas sem tema, sobre tudo e sobre nada, na apertada redacção do jornal O Mensageiro. Mais ou menos um ano antes, tinha entrado como teólogo ao serviço da Diocese, e uma das tarefas que me foram confiadas pelo Bispo D. Serafim foi a de colaborar na renovação daquele semanário, onde as novas tecnologias ainda não tinham chegado. Como chefe-de-redacção, tinha ganho alguma experiência no mundo da imprensa e o bicho do jornalismo estava instalado. O Adélio Amaro, um jovem do Casal da Mourã, tinha entretanto começado a colaborar na composição dos textos e também ele tinha ganho o gosto pelos jornais.

A conversa é sobre isso mesmo. O panorama da imprensa regional, a importância da formação e informação nos nossos dias, a dificuldade de concorrência entre uma imprensa de conteúdos e esta onda “comercial” e sensacionalista que invade a maioria da comunicação social, mesmo a nível regional. E, de repente, surge uma pergunta:

– E se a gente fundasse um jornal nas nossas freguesias?

Era costume trocarmos impressões sobre as nossas terras de origem e de coração, eu da Golpilheira e ele da Barreira. Sendo duas freguesias vizinhas, as suas riquezas e problemas, as suas gentes e locais, a sua tradição e património, a sua acção presente e perspectivas de futuro não eram assim tão diferentes. Talvez por isso, logo se seguiu outra pergunta:

– E se fosse um único jornal para as nossas duas freguesias?

Em tempos passados, existiu um jornal na Barreira, mas acabou por desaparecer. A Golpilheira, pequena e jovem freguesia, nunca teve um jornal seu. O próprio jornal do concelho da Batalha tinha sido restaurado há cerca de seis anos e estava em processo de afirmação. Neste contexto, a ideia parecia, ao mesmo tempo, utópica e fascinante. Desfilaram imediatamente algumas possibilidades de concretização, pusemos sobre a mesa as inúmeras dificuldades a ponderar, mas começámos também de imediato a sonhar com o que poderia ser essa aventura.

A avançarmos com isto, parecia-nos acertada a opção de juntar esforços num mesmo projecto, porque a união faz a força e assim podíamos dividir por dois o trabalho e o investimento, e também o hipotético fracasso ou sucesso do que viéssemos a conseguir. Por outro lado, tratando-se de duas freguesias relativamente pequenas, ao juntar os materiais informativos e temáticos de ambas seria mais fácil, à partida, garantir os conteúdos para apresentarmos um jornal com mais páginas, mais variedade e mais qualidade. Afinal, não queríamos que fosse apenas mais uma “folha de couve”, como é costume chamar-se a alguns boletins de freguesia existentes na região.

Claro que, como cada um de nós tinha já o seu emprego e teria de assumir esta aventura apenas como ocupação de tempos livres, o jornal teria de ser mensal, para conseguirmos arranjar tempo para o fazer.

Antes de irmos para casa, ao final da tarde, está praticamente tomada a decisão que, momentos antes, era apenas uma ideia vaga lançada quase por brincadeira. Combinamos ir pensar sobre o assunto e pormenorizar o projecto. É preciso pensar num nome para o jornal, procurar legislação sobre a imprensa e informações sobre os passos a dar para legalizar o projecto, bem como fazer alguns contactos para garantir a publicidade que o financiasse.

 

Um nome

Arranjar um nome não foi fácil. “Jornal da Golpilheira e Barreira” ou “Jornal da Barreira e Golpilheira”, para além de ser muito grande, levantava um problema:

– Qual das freguesias vem em primeiro lugar?

É que não queríamos causar melindres de nenhum dos lados, já que a ideia era motivar a aproximação das populações, a partilha de informações de ambos os lados do “monte”, a promoção conjunta da vida social destas gentes que, apesar de viverem em freguesias e concelhos diferentes, aparentemente voltadas de costas, sempre se relacionaram bastante bem. Prova disso é a constituição de muitas famílias entre homens e mulheres da Golpilheira e da Barreira. Assim, o nome não pode ser motivo de divisão, mas deve significar exactamente esse propósito de união.

Passam alguns dias e as propostas que vamos apresentando não nos satisfazem. Até que uma noite combinamos ir tomar um café com as namoradas, para ver se resolvemos o assunto a quatro, já que entretanto também as tínhamos convidado para colaborar no projecto. Eu e a Célia Capitão assumiríamos a parte da Golpilheira, o Adélio e a Sandra Godinho ficariam com a responsabilidade pela Barreira. É aí, numa mesa do bar Circunstância, na Batalha, que lanço a sugestão:

– Que tal “Das Duas Uma”? É “uma” publicação “das duas” freguesias, argumento. Podemos até fazer um jogo de palavras no logotipo, graficamente “Das Duasuma”, acrescentando em caracteres mais pequenos a identificação “Barreira e Golpilheira”.

Ficamos a ponderar uns segundos… como que a ver a luz ao fundo do túnel. As meninas também acharam engraçado. Não deixa de ser um nome algo “esquisito”, a sugerir um trocadilho, o que nos deixa algumas dúvidas se será o adequado, mas decidimos arriscar por nos parecer de leitura suficientemente abrangente para revelar o nosso objectivo e fácil de ficar no ouvido do público. Mais tarde, viremos a verificar que esta designação retirava alguma “seriedade” ao jornal e dava a impressão de que se tratava mais de uma brincadeira de miúdos do que de um jornal a sério. Foi reflexo, talvez, da nossa juventude e inexperiência. Mas não podíamos andar a mudar de nome logo no início e em cada edição iríamos provar que se tratava de um projecto credível e de qualidade.

 

A propriedade

Outro problema que se colocou desde logo é o da propriedade da edição. Não queríamos arriscar a constituição de uma empresa e também não parecia correcto ficar no nome de apenas um de nós. Assim, equacionámos a possibilidade de se associar o jornal a uma instituição que lhe garanta a independência ideológica, política e religiosa e, ao mesmo tempo, que tenha uma actividade compatível com a promoção cultural, humana e social que queremos assumir no nosso trabalho. Uma associação cultural parecia-nos, neste contexto, a opção mais adequada.

Na Barreira há várias associações, o que levanta o problema de escolher uma delas em detrimento de outras. Também isso poderia causar melindres. Na Golpilheira, o Centro Recreativo reúne todas as condições desejadas, com a vantagem de ser uma associação dinâmica, com diversas secções culturais, recreativas e desportivas de reconhecido mérito ao nível regional. E, sendo a única, aglomera em torno de si todo o dinamismo social da freguesia. Assim, vamos falar com a direcção, presidida por José Ribeiro Ferraz, e apresentamos as nossas ideias e uma proposta de parceria. Nós fundamos o jornal como sendo propriedade do Centro Recreativo da Golpilheira (CRG), assumindo todas as responsabilidades pela sua edição, desde os conteúdos à impressão e distribuição e, sobretudo, à viabilização financeira do projecto. O CRG ganha mais uma secção de actividade, alargando o seu leque de acção à comunicação social, tem assegurada a divulgação mensal das suas actividades, tal como todas as outras associações e instituições das duas localidades, e não tem de se preocupar com qualquer tipo de trabalho, despesa ou responsabilidade. Claro que a total independência editorial, directiva e administrativa terá de ser assegurada, porque essa é a condição principal para que o jornal vingue. Explicamos:

– A propriedade do título é mais uma questão legal do que efectiva, pois queremos que o jornal seja a voz de todos, aberto a todas as pessoas e instituições que, nas duas freguesias, queiram colaborar. Não pode ser o “jornal do Centro”, para que as pessoas menos ligadas a esta colectividade, sobretudo na Barreira, também o sintam como “nosso jornal”.

É com base na aceitação destas condições que, a 17 de Agosto de 1996, fica registado na acta n.º 225 das reuniões de direcção do CRG o início do processo de constituição do “Das Duasuma”. Mais tarde, a 6 de Setembro, redigimos um documento com os termos que irão pautar esta relação entre o jornal e a colectividade. Esse “Contrato de acordo entre os fundadores do jornal Das Duasuma e o Centro Recreativo da Golpilheira” é assinado pelos fundadores Luís Miguel Ferraz, Célia Pereira Capitão, Adélio Oliveira Amaro e Sandra Gomes Godinho, e pelos membros da direcção do CRG: José Ribeiro Ferraz, Armando Monteiro Vieira, Maria Irene de Sousa André e Joaquim António Henriques Ferreira.

 

A legalização

Depois de consultar toda a legislação a cumprir e de reunir os documentos necessários, registámos o título no Instituto da Comunicação Social (n.º 120146), enviámos o logótipo para a Alta Autoridade para a Comunicação Social e definimos o Estatuto Editorial e os primeiros dados da ficha técnica.

A sede da propriedade será a do CRG, na Golpilheira, a sede da redacção irá para o Casal da Mourã, Barreira. Os fundadores assumem a direcção, administração, redacção e paginação do jornal. Para a tiragem dos fotolitos contamos com a colaboração de Pedro Renner, um jovem técnico de artes gráficas a iniciar a sua actividade em Leiria na sua empresa Renner Infografia, na Quinta do Cavaleiro, que muito nos iria ensinar nos primeiros tempos e nos acompanharia em algumas noitadas de trabalho duro para fazer sair as primeiras edições. A impressão será feita na Tipografia Leiriense/Offsetlis, empresa que também muito contribuirá para a edificação do jornal. Começamos com 8 a 12 páginas, capas a cores e dois a três mil exemplares de tiragem. Fixamos o preço de cada exemplar em 120$00 e a assinatura anual em 1.200$00.

O Estatuto Editorial é o seguinte:

O Jornal “Das Duasuma” é um órgão de comunicação social local, de periodicidade mensal, que visa a promoção e o desenvolvimento das freguesias da Barreira e Golpilheira, em estreita cooperação com os poderes e associações culturais da comunidade, legitimamente instituídos.

O jornal “Das Duasuma” é autónomo face aos poderes políticos, confessionais ou outros, orientando a sua conduta dentro dum espírito de liberdade de informação, de pensamento e de expressão, consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e no artigo 37.º da Constituição da República Portuguesa.

A recolha e investigação das raízes e vivências praxiológicas das freguesias constitui o ex-libris temático do Conselho Redactorial, empenhado em legar às gerações futuras uma leitura acessível sobre os seus elementos histórico-etnográficos.

Comprometido na realidade presente, o jornal “Das Duasuma” pugna pela selecção criteriosa da informação, em harmonia com os princípios supracitados, tendo sempre como “leit-motiv” a salvaguarda do interesse colectivo.

O jornal “Das Duasuma” institui-se como tribuna da voz e eco dos anseios da população, tendente ao progresso das suas condições de vida, num desenvolvimento integrado de todas as suas forças activas.

 

A primeira edição

Está tudo a postos para gizarmos a primeira aparição em público. Será um jornal de apresentação aos leitores, uma edição número 0 (zero), onde mostraremos um pouco do que se pretende fazer no futuro e convidaremos todos os interessados em colaborar. Decidimos começar já nesse mês de Setembro.

É chegada a hora do primeiro teste à receptividade do projecto junto dos seus destinatários: procurar apoios junto das empresas e instituições locais para pagar a primeira edição. Logo aqui, temos a primeira boa surpresa: ainda sem saberem o que esperar, sem verem mais nada para além da promessa de que um jornal irá aparecer, são várias as empresas que aceitam fazer uma publicidade e as Juntas de Freguesia decidem de imediato apoiar e promover a iniciativa.

É com esta garantia que começamos a redigir os primeiros textos, a elaborar os primeiros anúncios, a fazer a primeira maqueta das páginas. Durante alguns dias vamos preparando as notícias a colocar.

Na Golpilheira, o destaque será para o anúncio da 3ª Semana Cultural, que se iria realizar de 12 a 20 de Outubro deste ano de 1996. Nesta edição vamos ainda noticiar que a Miss Batalha 1996 e a sua 2ª dama de honor são da Golpilheira, que vai haver um Concerto pela Banda Sinfónica da PSP no Centro Recreativo, que o rancho “As Lavadeiras do Vale do Lena” está a preparar novos temas para a próxima temporada, que a Escola de Música e a Orquestra Ligeira estão a iniciar novo ano lectivo, que a Junta de Freguesia está desenvolver alguns trabalhos de alargamento de vias e de pontes, que alguns golpilheirenses foram passear até Lisboa e outros ainda se podem inscrever para ir também, nas excursões que a Junta organiza.

Quanto à Barreira, destacaríamos a notícia das festas do Telheiro e da sua tradicional garraiada, que acabavam de decorrer nos dias 6 a 8 de Setembro de 1996. Apresentámos ainda uma notícia sobre um loteamento novo a nascer na Mourã, uma nota histórica sobre esta freguesia em 1954 e uma descrição do que seria a nova capela do Telheiro.

A fechar a edição, surgirá a primeira entrevista que iremos apresentar, tendo como interlocutores os presidentes das Juntas da Golpilheira e Barreira, respectivamente, José Filipe e Vítor Miranda. Perguntamos-lhes quais as principais deficiências no desenvolvimento das suas freguesias, como tem sido o seu trabalho autárquico, que projectos têm para o futuro, qual a sua opinião sobre o célebre processo de “regionalização” e, finalmente, o que pensam sobre o aparecimento do jornal Das Duasuma e o facto de ele servir duas freguesias.

Depois de prontos os textos e definidos os restantes conteúdos, juntamo-nos numa noitada para paginar. Num computador DX2 a 44 HTZ, com 4 MB de RAM e 40 MB de disco, temos instalado o Windows 3.11, o Word 2.0, o PageMaker 2 e o Corel 5. (Quem sabe do que estamos a falar deve imaginar o sofrimento; para quem não sabe, basta dizer que já não deve existir nenhuma relíquia destas a funcionar… mas, se houver, não se conseguirá colocar lá nenhum dos mais simplórios jogos informáticos que actualmente se vendem aos miúdos). É aí que damos corpo ao primeiro jornal, numa directa até de madrugada. Mais tarde percebemos que estas noites perdidas seriam repetidas mês a mês, porque aquilo dava mesmo trabalho e não tínhamos outro tempo para além dos fins-de-semana… e das noites. Mas essa era apenas umas das muitas descobertas dolorosas que, a partir deste dia, haveríamos de fazer.

De madrugada, já o sol se vê, damos uma última vista de olhos pelas provas, impressas em A4, minúsculas. Parece estar bem, mas os olhos já não dão para detectar mais gralhas ou erros gráficos. Desligamos o computador e vamos a casa tomar um banho. Uma hora depois, dirigimo-nos para a Offsetlis (Tipografia Leiriense), levando cerca de uma dezena de disquetes com as 8 páginas e os ficheiros das imagens. Somos os primeiros clientes da manhã. Algumas disquetes não funcionam, pelo que temos de regressar a casa para trazer o computador. Mas ligar em rede aquela máquina não é fácil. É então que nos apresentam ao Pedro Renner, um mágico das artes gráficas, que consegue tirar os fotolitos das páginas, ao fim de algumas tentativas e muitas correcções de fontes, cores e “links” que não funcionam. Ao fim do dia, as páginas começam a rolar na impressão.

No outro dia à noite, depois do trabalho, juntamo-nos para fazer a intercalação das páginas. As folhas foram-nos entregues direitas e era preciso dobrar e colocar na ordem umas dentro de outras. Decidimos fazer este trabalho nós mesmos, para pouparmos algum dinheiro.

No fim, tínhamos feito tudo sozinhos, para conseguir gastar o menos possível. Assim, este primeiro jornal custou cerca de 80 contos na gráfica e mais uns 30 na infografia. Para nós, ainda assim, era uma pequena fortuna!

Edição n.º 0

Faltava um último esforço, para completar o processo: levar os jornais aos leitores. Como a Lei só atribuía o apoio do Porte Pago aos jornais que tivessem mais de seis meses, e a conta dos correios seria grande, lá vamos nós a isto: reunimos alguns jovens familiares e amigos e partimos pela noite, para fazer a distribuição. Nas duas freguesias o método foi idêntico: um carro leva a mala cheia de jornais e nós (na Golpilheira fomos 5 ou 6 jovens) vamos batendo as ruas a pé, deixando um exemplar em cada caixa de correio. Será assim nos primeiros seis ou sete meses, pelo que ficámos a conhecer todas as casas dos nossos conterrâneos, naquelas 4 ou 5 horas que demorava a volta completa.

No outro dia de manhã, estávamos ansiosos, a imaginar qual seria a reacção de cada uma das pessoas que, ao abrir o correio, iria encontrar aquela novidade. Mas, por nós, o trabalho estava feito. Nesta edição número 0, para além das notícias referidas, inserimos um texto que resumia os nossos objectivos e intenções futuras. Dizia assim:

Nascemos. Se calhar, só porque sim. Mas também porque acreditamos que a informação, difusão de ideias e promoção dos valores culturais da nossa terra são uma aposta que vale a pena. Não sabemos ainda como nem até quando vai durar esta aventura. Desejamos que se prolongue para além da nossa própria existência, quem sabe até aos netos dos nossos netos.

Mas tal longevidade depende, não só de nós, mas do bom fruto e acolhimento deste empreendimento. Depende de vós, leitores, anunciantes e colaboradores.

Mas avançámos porque temos a convicção de que o ideal prevalecerá, o projecto vingará e a nossa terra, neste caso, as nossas terras; da Barreira e Golpilheira, terão o que merecem: um meio de divulgação dos seus valores ancestrais, da sua valiosíssima tradição cultural e da sua honrosa História, bem como dos seus dotes presentes, dos seus actuais homens de força, dos pequenos nadas que enriquecem cada vez mais as nossas vidas em sociedade e em comunidade.

No princípio podemos ainda não saber andar, tropeçar, ou cair no desânimo. Contamos com a vossa ajuda, com o vosso interesse, com o vosso entusiasmo e participação. Esperamos que o jornal seja mais vosso que nosso, que os textos, as notícias, as opiniões surjam das vossas intervenções, por carta ou pessoalmente. Não pretendemos ser grandes cérebros pensantes ou transformar-nos em companheiros de elites. Queremos, isso sim, ouvir e falar com os mais simples, dar-lhes voz e dar-lhes razão nas suas razões.

E, para já, queremos agradecer a todos os que, quase sem saber o que de nós se podia esperar, nos apoiaram, incentivaram e acarinharam, desde as pessoas que foram tomando conhecimento e nos deram força, até às empresas e comerciantes que aceitaram a nossa proposta de divulgarmos os seus bens e serviços. Eles bem sabem que, para prestarmos este serviço à comunidade, precisamos da publicidade, principal fonte de financiamento dum Jornal.

Estamos certos que muitos mais virão. A falta de tempo e condições não nos permitiram contactar todos, mas de agora em diante conhecem a nossa porta e podem sempre bater e entrar.

Com a promessa de nos voltarmos a encontrar daqui a um mês, desde já à vossa boa aceitação, o nosso muito obrigado!

 

Em frente

A reacção dos destinatários foi boa. Claro que a maioria não se manifesta, mas escutamos algumas conversas na rua que nos indicam essa boa receptividade. E algumas pessoas mais ligadas à vida comunitária telefonam-nos e escrevem-nos com incentivos a continuarmos. Por isso, daí em diante, mês após mês, começámos a cumprir o prometido. Procurámos estar atentos ao que se passava na terra e, de máquina fotográfica numa mão e gravador na outra, fomos registando e publicando tudo o que conseguíamos captar de importante, sobretudo ao nível cultural e social.

Passados seis meses, veio o apoio do Porte Pago, que nos dava a possibilidade de enviar o jornal pelo correio, gratuitamente, aos leitores. A nossa tarefa foi pegar na lista telefónica e copiar para o computador os nomes e moradas de todos os habitantes de cada freguesia. A partir daí, faríamos uma selecção daqueles que realmente estariam interessados em receber o jornal, pagando a respectiva assinatura.

Para a Golpilheira e zonas limítrofes, passámos a enviar cerca de 800 jornais. Na Barreira seguiam cerca de 1000 para a expedição. Desses, a grande maioria tornaram-se assinantes. Cerca de um ano depois tínhamos o ficheiro de assinantes devidamente organizado na Golpilheira. Na Barreira terá sido feito o mesmo trabalho.

Em Janeiro de 1998, demos um novo passo na solidificação do projecto. Passámos a impressão para uma grande rotativa, onde ainda hoje estamos, na gráfica Coraze, em Oliveira de Azeméis. Com a ajuda da experiência desta grande empresa, onde são impressos centenas de títulos de todo o país, fomos adaptando os nossos métodos e tecnologias, de acordo com a evolução técnica que se tem registado.

Basta referir que actualmente fazermos o jornal no nosso computador, gravamos as páginas prontas num CD, a transportadora entrega na gráfica no outro dia de manhã. Aí, passam tudo directamente para a rotativa, de onde sai o jornal dobrado, ensacado e com os endereços inseridos. Na madrugada seguinte, a transportadora da gráfica deixa os exemplares na estação de correios e as sobras para entrega directa na nossa sede. Num dia, está o processo completo. Os CTT devem, por lei, entregar o jornal nos três dias úteis seguintes…

 

A separação

A experiência dos primeiros anos ensinou-nos muitas coisas. Uma delas foi a diferente aceitação do jornal por parte das duas freguesias.

Na Golpilheira, os anunciantes garantem mensalmente o seu financiamento, os assinantes pagam de boa vontade a sua assinatura, as pessoas falam do jornal como um parceiro de promoção da terra e uma leitura agradável em cada mês.

Na Barreira, a oferta publicitária não consegue suprir a sua metade das despesas. A cobrança das assinaturas não resulta… as pessoas parecem desligadas do projecto, apesar de algumas honrosas excepções. A desculpa mais ouvida é o facto de o proprietário ser o Centro Recreativo da Golpilheira, e que isso desmotiva os barreirenses. Por outro lado, o desaparecimento de um antigo jornal da Barreira deixou algumas pessoas renitentes em acreditar no sucesso deste.

Fosse qual fosse o motivo, a verdade é que esta união não estava a resultar. Assim, os directores tomaram a decisão de terminar a edição da publicação conjunta, a partir de Dezembro de 2000. O “Das Duasuma” iria ser transformado num jornal só da Golpilheira, sendo o mesmo proprietário o nosso Centro Recreativo, e a Barreira iria criar a sua própria publicação.

O Adélio Amaro fundou, então o “Correio da Barreira”, que apareceu em Fevereiro de 2001, com capas a duas cores e 12 páginas. Voltou a sentir algumas dificuldades em encontrar apoio junto do seu público, teve publicação intermitente em alguns meses e, actualmente, é publicado como suplemento do jornal regional Correio de Negócios.

Na Golpilheira, a continuação da publicação revelou-se um processo normal. Em Janeiro de 2001, apareceu com o logótipo que tem actualmente e assumia o mesmo estatuto editorial do passado.

 

Jornal da Golpilheira
1.ª edição do JG

A escolha do nome foi a mais simples: “Jornal da Golpilheira”. Com esta maior identificação ao nome da nossa terra, pensei criar condições para que mais pessoas colaborassem no projecto. Fez-se o convite a que aparecessem voluntários para um Clube de Jornalismo do CRG, e eles apareceram. Formou-se um grupo de cerca de 15 jovens e adultos. Nos primeiros encontros, fizemos uma pequena acção de formação sobre jornalismo, para que ficassem com as noções mínimas de como fazer uma notícia e como escrever um texto em jornal. Depois disso, continuaram a aprender e hoje colaboram na “reportagem” com muito interesse.

O jornal tem mantido sempre um tamanho entre as 16 e as 28 páginas, com várias páginas a cores, e implantou-se definitivamente como órgão de comunicação social do Concelho, com boas referências entre os colegas da informação regional. Continuamos sem trabalhadores pagos, fazendo todo este trabalho de forma voluntária e nos tempos livres. Mas sempre com a noção da importância que tem um meio de comunicação na promoção do desenvolvimento geral de uma região. Por isso, cuidamos de forma especial a nossa isenção, a qualidade de escrita e o destaque permanente ao que consideramos os valores positivos da sociedade.

Passadas 100 edições, é cada página impressa que fala da nossa história, mais do que qualquer texto que se possa escrever sobre ela. O que pretendemos com este reavivar de memórias é, sobretudo, relembrar o caminho traçado apesar de todas as dificuldades, o esforço e dedicação que estão por detrás da continuação deste trabalho, o amor que dedicamos a esta causa que é, no fundo, o amor à nossa terra!

Por isso, esta nota histórica não é tanto um olhar para trás, mas um “ponto da situação” de quem está empenhado no presente e acredita seriamente no futuro.

Enquanto o povo da Golpilheira nos acarinhar como tem feito, enquanto as nossas empresas mostrarem o seu apreço, como fizeram tão claramente nesta edição especial, enquanto os assinantes acharem que são bem gastos os seis euros anuais que dão para nos receberem em casa todos os meses, enquanto os leitores olharem com interesse para o nosso trabalho, nós cá estaremos para fazer o melhor que soubermos em cada edição.

Luís Miguel Ferraz

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