>Não é propriamente um safari no Quénia, mas poderá ser um dia pleno de emoções e muita diversão, num ambiente que, por momentos, nos leva a imaginar a selva africana, a Ilha de Madagáscar e outras paragens mais exóticas. E com a vantagem de ficar a cerca de 250 quilómetros da Golpilheira. Trata-se do parque natural da Herdade da Badoca, inaugurado a 14 de Maio de 1999, junto a Vila Nova de Santo André, a cerca de 30 quilómetros de Sines, em plena Costa Alentejana, celebrizado pelas cenas ali filmadas há uns anos para uma novela de televisão.
Fizemos uma visita ao local e contamos-lhe um pouco do que poderá ali encontrar, como boa sugestão para um fim-de-semana ou uma escapadinha de férias neste Verão.
Chegada
Na estrada de Grândola para Sines (IP8), ao km34, encontramos à direita um imponente portal, que nos anuncia a entrada num cenário propício à imaginação. O parque de estacionamento em terra batida acaba por servir de adaptação ao ambiente que nos espera, com vegetação abundante e cuidada, contacto com a natureza e, portanto, sem cimento ou alcatrão. À entrada, a sempre inconveniente bilheteira, mas os 43 euros do bilhete familiar (há outras variáveis) acabam por parecer bem merecidos ao fim de um dia de diversão – é verdade, convém chegar pela manhã e sair ao final da tarde, para aproveitar bem.
Já agora, no preçário familiar informa-se que é apenas para dois adultos e duas crianças. Defendemos que às famílias mais numerosas seja dado o mesmo desconto, sem discriminação. Por sinal, entrámos com três crianças e fizeram-nos o preço de um bilhete de família. Não sabemos se é norma, ou se foi por estar um jornalista no grupo. Não chegámos a fazer essa pergunta ao director do parque, Pedro Krupenski, que se prontificou a oferecer um bilhete ao repórter do Jornal da Golpilheira e a acompanhar-nos na visita, caso o desejássemos. Preferimos ir sozinhos, à aventura, mas agradecemos a amabilidade.
Aves exóticas e lémures
Comecemos a visita. À direita, surge a primeira surpresa: uma diversidade de aves exóticas, de magníficas cores, passeia-se nos poleiros e ambientes semelhantes aos naturais. Podemos passar largos minutos a contemplar os loris, tucanos, periquitos, caturras, etc. Para os mais audazes e desejosos do contacto com os animais, faz-se o convite, à esquerda, a entrar na grande jaula dos papagaios, araras e catatuas. Dá para tirar belas fotos, com as aves pousadas nos seus ombros e, se não fizer gestos muito violentos, sem qualquer tentativa de agressão dos seus bicos encurvados.
Deixando os pássaros, encontramos a ilha dos lémures de barriga vermelha (embora as fêmeas a tenham branca), que parecem macacos, mas não são. Naturais da floresta tropical de Madagáscar, são os animais mais territoriais daquela ilha e muito vulneráveis. Cada grupo é constituído por cerca de 2 a 5 indivíduos, mãe, pai e filhos até aos 2 anos e meio, pois a partir desta idade a mãe expulsa as crias fêmeas e o pai as crias machos (fora com a concorrência).
Uma das filosofias do parque é a protecção das espécies em risco de extinção e colaboração em programas internacionais para a sua reprodução em cativeiro. Isso mesmo nos vai sendo informado, nas muitas sessões de apresentação dos diversos animais, sobretudo aquando da sua alimentação. Neste contexto, o lémur e outros nativos da ilha de Madagáscar têm no Badoca um espaço especial, com uma exposição temática a eles dedicada e uma animação teatral sobre os perigos que correm no seu habitat natural.
Uma quinta muito especial
Na parte superior do parque, aparece uma extensa e muito especial quinta. Cabras anãs e póneis, flamingos, íbis, cangurus, coatis, lamas, cavalos, burros, ovelhas e o estranho watusi – boi de enormes cornos – convivem alegremente, embora separados em estábulos próprios, cada um deles adaptado à personalidade dos habitantes.
Em honra do habitat natural de grande parte destas espécies, foi criado um recinto chamado “aldeia africana”, com vários espaços a descobrir e enormes animais de madeira, onde os mais pequenos podem dar largas à sua genica, pulando jacarés, entrando na barriga dos elefantes ou trepando pelo interior da girafa.
No fim de tanta animação, é fácil a fome começar a apertar. Nota positiva para o enorme parque de merendas, entre as frondosas árvores, num ambiente agradável e refrescante. Nota negativa para a capacidade de resposta do restaurante, pois bastou entrar um autocarro de gente para ficarmos de fora. Já agora, estar fechado às 16h00, quando tanto nos apetecia uma bebida na magnífica esplanada, também nos pareceu um desperdício de oportunidade. Claro que podemos optar pelo quiosque de comidas rápidas, junto ao parque de merendas, o que acabámos por fazer, mas a fila era imensa para apenas duas funcionárias, para além de os preços, até dos gelados, estarem demasiado inflacionados. O nosso conselho, sobretudo para as famílias, é levarem um farnel de casa para o piquenique.
Safari, marabús e aves de rapina
O momento mais apetecível do dia é, sem dúvida, o safari. Depois de uma sandes engolida à pressa, lá partimos para a ponte de madeira que nos conduziu às carruagens puxadas a tractor. Apesar do pó, que é natural, e de algum aperto da lotação esgotada do veículo, vale bem a pena. As avestruzes são as primeiras a fazer o reconhecimento dos forasteiros, com umas bicadas de cumprimento. A diversão começa logo aí. Depois, ao longo de cerca de uma hora, é uma verdadeira entrada num zoo que não imaginamos encontrar em pleno Alentejo: Cobo Crescente, Gnu Azul, Kudu, Gnu de Cauda Branca, Búfalo do Congo, Muflão, Nandu, Órix Cimitarra, Pecari de Colar, Sitatunga, Tigre de Bengala, Veado Ibérico, Zebra da Planície, Cabra de Leque, Chital, Cobo de Leche, Elande, Impala, Gamo e Girafa. Pelos nomes, já podemos imaginar a variedade de animais que podemos por ali encontrar, com paragens frequentes para a necessária explicação do condutor da expedição. E nem vale a pena descrever mais nada, pois esta é uma daquelas coisas que “só vistas”. O único animal que nos pareceu demasiado “preso” foi o tigre, limitado a um espaço parecido com o de um zoo urbano.
De regresso, pudemos ainda assistir à alimentação dos Marabús, uma estranha e enigmática ave, conhecida como “cangalheiro de África”, dado o seu aspecto “simpático”. Com metro e meio de altura e dois e meio de envergadura de asas, é ver estes sinistros e vorazes passarões engolir em pleno ar os pintos que lhes são atirados. No seu habitat natural, têm o importante papel de limpar os restos de carcaças deixados por outros predadores, eliminando focos de contaminação e doenças.
E por fim, continuando nas aves vorazes, uma demonstração de aves de rapina. Falcões certeiros, corvos atentos e águias inteligentes mostram as suas mais apuradas técnicas de caça, rasando com toda a confiança a cabeça da assistência entusiasmada. A águia faz até um voo rasteiro, por entre as pernas de um grupo de pessoas que se coloca entre ela e o pintainho saboroso. É impossível resistir a tanto charme, sem esboçar um sorriso de aplauso.
Saída
Ao fim de um dia, estamos cansados. É divertido, mas convém ter alguma leveza no corpo e boa disposição no espírito. Até porque para acompanhar o ritmo das ofertas do parque convém não perder muito tempo em cada lugar. Quanto a isso, convém também ir preparado para encontrar horários diferentes daqueles se anunciam no sítio da internet (www.badoca.com), nos folhetos informativos e mesmo no quadro que está à entrada. Quem programar o horário em casa, como nós fizemos, terá de andar todo o dia a alterar os planos. Esta falha é, no entanto, compensada pela constante informação sonora das várias sessões. E não podemos deixar de referir a simpatia e amabilidade do pessoal do Badoca, desde a recepção até aos tratadores de animais e restantes guias, sempre com um atendimento pronto e sorridente.
Portanto, apesar dos dois ou três pontos negativos que encontrámos, o saldo é francamente positivo e não podemos deixar de aconselhar uma visita. Como dissemos, convém ir todo o dia e preparar-se para o esforço físico. Já agora, as crianças aguentam lindamente e ainda pedem mais. Só se nota que estão cansadas quando se sentam no automóvel e adormecem imediatamente.
Texto/fotos: Luís Miguel Ferraz
Positivo
– Diversidade de espécies
– Magnífico ambiente natural
– Boas sessões temáticas
– Simpatia do pessoal
Negativo
– Bilhete familiar só para duas crianças?
– Restaurante pequeno e alimentação cara
– Falha nos horários anunciados