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O auditório municipal estava cheio, a sessão contou com a animação musical requintada do grupo “Adesba Chorus”, da Barreira, a apresentação foi feita por Conceição Bento, directora da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, o encerramento foi proferido por Cíntia Silva, vereadora da Cultura do Município da Batalha. Mas, mesmo com todo este cuidado protocolo, no dia 24 de Julho viveu-se uma verdadeira festa “familiar”, simples e despretensiosa, à imagem da autora da obra que estava a ser apresentada, “A Família e a Saúde Mental”.
A golpilheirense Maria da Purificação Bagagem é de facto um exemplo de excelência humana e profissional, mas também de humildade e delicadeza na sua relação com os outros. Vivendo de forma discreta na comunidade e na própria família, nunca deixou de estar atenta e pronta a ajudar, marcando o seu lugar sem se impor, acompanhando com ternura maternal os meninos que iam aumentando o clã, apesar de não ter tido filhos seus. Isto mesmo testemunhou o sobrinho, Jorge Bagagem, num relato bem-humorado mas emotivo com que lembrou os tempos vividos na casa da tia, em Coimbra, enquanto universitário. Num resumo da sua personalidade, apresentou-a como mulher determinada nas suas convicções (ao ponto de sair de casa aos 17 anos para estudar enfermagem em Coimbra), útil conselheira, com abertura e jovialidade de espírito, mas também exemplo de trabalho intelectual e firmeza nas decisões (como a de banir lá de casa o tratamento por “cota”, ainda que brincalhão, mas que lhe causava “formigueiro nos ouvidos”).
Quanto à obra, depois de outras publicações e trabalhos académicos, foi a “concretização de um sonho”, como lembrou Conceição Bento, o sonho de “partilhar com todos a sua experiência pessoal e profissional, e também de vivência de fé católica aprofundada, de modo a poder ajudar outros a fazer o caminho de modo mais fácil”. Recheada de “momentos de vida, pequenos gestos e grandes obras, observados e vividos com outros”, este livro “centra-se nos valores humanos e cristãos cuja falta é a maior crise da modernidade”, para nos dar uma lição simples: “Uma vez que ensinamos o que somos e vivemos, temos de verificar todos os dias o que fazemos, para aferirmos os valores que defendemos e que queremos que vivam os que se relacionam connosco”. Por outras palavras: “Façamos do mundo um lugar de afectos, para sermos pessoas mais felizes, numa sociedade cada vez mais justa e humana”.
A autora agradeceu emocionada tão numerosa presença de familiares, colegas e amigos, a quem dedicou este fruto do seu trabalho dos últimos anos, já depois de jubilada (em 2000). “Sobretudo às mães, pois é no seu regaço que começa todo o ensino e a formação da personalidade dos filhos, um ensino que só é completo se incluir as duas dimensões do amor: a Deus e aos outros”, afirmou.
Sobre o livro, afirmou que “não é um trabalho científico, mas sim uma partilha em linguagem simples e acessível a todos dos conhecimentos que foi adquirindo na sua vida profissional e noutras experiências de acompanhamento social e psiquiátrico, nomeadamente, com jovens”. Por outro lado, os valores que recebeu no lar e a relação que foi alimentando numa família numerosa serviram também para alicerçar o seu pensamento e as convicções que defende. Isso está bem patente ao longo de toda a obra, mas especialmente no último capítulo, onde descreve o ambiente em que nasceu e cresceu. Antes disso, o texto começa por realçar “a importância da família na vida humana”, entrando depois numa abordagem mais específica da “família e a saúde mental” e no “papel dos pais na criação, formação e educação dos filhos”. Na apresentação, Purificação Bagagem resumiu o seu objectivo editorial: “Espero que seja uma ajuda para sermos mais felizes e termos um mundo melhor”.
A terminar, a vereadora Cíntia Silva considerou “uma honra contarmos esta autora entre o número dos batalhenses que se destacam pelo seu valor e pelo trabalho de mérito”, classificando esta obra como “fundamental para percebermos a importância do nosso papel de pais nos dias de hoje, em que o tempo para os filhos é pouco e precisa de ser usado com a máxima qualidade”. Nesse contexto, sublinhou o destaque dado no livro aos valores, “mostrando como podemos ensinar as nossas crianças a amar e a viverem em relação, numa sociedade cada vez mais marcada pelo egoísmo e a competição”.
Não precisamos acrescentar mais para convencer os golpilheirenses a comprar e ler com atenção este livro durante o Verão. Nada melhor do que bater à porta desta nossa conterrânea, provavelmente com direito a algumas palavras extra e um autógrafo personalizado.
Luís Miguel Ferraz