(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
In Memoriam: Maria Hercília Zúquet

In Memoriam: Maria Hercília Zúquet

(Especial  Leituras de Férias)

Também à nossa volta, entre os conhecidos, na nossa família ou comunidade, na nossa paróquia e diocese, encontramos gente que viveu de modo admirável a caridade para com o próximo. Fê-lo naturalmente segundo as suas capacidades e meios, na atenção e resposta às necessidades descobertas e aos apelos recebidos. São pessoas movidas pela fé cristã e pelo amor que o Espírito Santo derramou nos seus corações. É o caso de uma mulher que faleceu recentemente, Maria Hercília Zúquet, que conheci pessoalmente somente na fase final da sua vida.
Nascida em Lisboa numa família abastada no ano de 1924, Maria Hercília de Sales D’Oliveira Zúquet, era filha de António de Oliveira Zúquet e de Maria Júlia Sales d’Oliveira Zúquet. Residiu na Batalha e em Leiria, acabando por falecer em Fátima a 28 de Junho de 2011. Desde cedo assumiu a vida cristã com convicção e empenhou-se no apostolado em movimentos como os noelistas e a Acção Católica. Na paróquia da Batalha trabalhou na catequese e na formação apostólica. Mais tarde viria também a ser nomeada ministra extraordinária da comunhão, exercendo este serviço em favor dos fiéis nas celebrações ou na visita aos doentes.
Foi sobretudo na acção social que se distinguiu. Em 1948, a pedido do bispo de Leiria de então, D. José Alves Correia da Silva, começou a organizar o trabalho de apoio educativo, lúdico e social às crianças que frequentavam o ensino primário, ocupando-as após a saída da escola. Pouco tempo de depois, esse serviço foi alargado às crianças antes da idade escolar e ainda aos bebés. Daí surgiram uma creche (Beato Nuno), um Jardim infantil (Mouzinho de Albuquerque) e as Actividades de Tempos Livres (ATL). Mantinham-se com a contribuição das famílias das crianças e a as dádivas pessoais de Maria Hercília. Esse contributo durou praticamente até à sua morte, investindo nessa obra social quantias avultadas do seu património. Desde 1983, estas valências passaram a contar também com o apoio da Segurança Social mediante subsídios acordados. Actualmente, a instituição, nas suas três valências, tem a frequência de cerca de 100 crianças, educadas por cerca de 20 pessoas.
Desde 1952, esta iniciativa integrou-se na Junta de Acção Social da Diocese de Leiria, entretanto criada pelo Cónego José Galamba de Oliveira com a colaboração de outros homens e mulheres cristãos. Visava, entre outros, os seguintes objectivos: “promover a fundação e organização de obras de assistência moral e material e de serviço social que se considerem necessárias em cada meio; amparar e ajudar essas e outras obras católicas similares que o desejem, a realizar os seus fins caritativos; fomentar a preparação de pessoal directivo e administrativo que sirva de garantia ao bom funcionamento das obras; procurar unidade de acção e de orientação e um entendimento perfeito entre as obras já existentes e as que vierem a fundar-se”.
No desta acção social diocesana dinamizada e orientada pelo Cónego José Galamba, nos anos 50 do século passado, a Maria Hercília colaborou em campanhas de alfabetização e formação doméstica para raparigas na Cova da Iria, Moita, Lomba d’Égua, Aljustrel e outros lugares vizinhos de Fátima, nas colónias de férias para crianças no Foz do Arelho, centros materno-infantis assistidos por enfermeiras, na Batalha, Alqueidão da Serra, S. Mamede, Reguengo do Fetal, Freixianda e Marinha Grande. Neste mesmo sentido, foi criada a Escola de Formação Social, em Leiria, ainda existente, e a Casa do Trabalho, que subsistiu até há pouco tempo.
Além das obras sociais e educativas que orientava e mantinha, a Maria Hercília, que dispunha de consideráveis bens materiais herdados da família, contribuiu com generosas ofertas para instituições públicas e particulares de solidariedade ou de utilidade comunitária como os bombeiros, a Santa Casa da Misericórdia e a paróquia da Batalha. Deu também consideráveis ofertas ao Seminário, à diocese de Leiria-Fátima e a outras instituições eclesiais. Não esqueceu também os familiares, a quem agraciou com boas dádivas, e os pobres, especialmente as famílias das crianças que frequentavam por vezes gratuitamente as obras educativas e sociais por ela orientadas. Foi portanto uma mulher que se sentiu chamada ao apostolado e à caridade. E soube corresponder com a dedicação total da sua pessoa e com uma generosa aplicação dos seus bens. Pela sua pessoa e obra, louvamos e agradecemos a Deus!

Pe. Jorge Guarda, Vigário-Geral da Diocese

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