(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Homenagem a José Travaços Santos: O soldado da cultura

Homenagem a José Travaços Santos: O soldado da cultura

Há pessoas que merecem apreço por alguma qualidade ou obra em que se distinguem; há pessoas cujo mérito é digno de reconhecimento público pelo contributo que dão para uma sociedade mais justa, mais culta ou mais humana; há pessoas que devem ser enaltecidas pela excelência da sua dedicação e serviço aos outros. E, depois, há pessoas como José Travaços Santos, que, sendo tudo isso, o é sem pretensão, sem busca de reconhecimento ou louvor, com total paixão na oferta do muito que é e que tem, para que os outros cresçam e sejam melhores pessoas.

Assim começava o texto que publicamos há dois anos, a propósito de uma homenagem promovida pelo rancho Rosas do Lena a 19 de Dezembro de 2021, aquando do lançamento do 3.º volume dos “Apontamentos sobre a história da Batalha”, mais uma colectânea de artigos deste etnógrafo e prolífico investigador. Assim começa, de novo, a notícia sobre a homenagem que voltou a acontecer, no passado dia 24 de Março, desta feita pela mão de um grupo de amigos, a que se juntaram o Município, o CEPAE e diversas outras entidades concelhias.

O primeiro objectivo era a celebração da amizade e da vida deste ilustre batalhense, que no dia seguinte completava a soma de 93 anos vividos e bem recheados. Para tal se juntaram cerca de centena e meia de pessoas, no salão do Centro Recreativo da Golpilheira, num almoço de confraternização com o homenageado.

Monumento na vila

Mas era também objectivo assinalar no espaço público da vila a figura desta personalidade marcante da história local – e até nacional – desde meados do século passado até aos nossos dias. “José Travaços Santos: Batalhense ilustre na cultura, história, etnografia, poesia… e na defesa do associativismo, do património e da Pátria!”, assim resume a gravação na lombada de um livro de pedra do monumento que o artista Rui Basílio imaginou para tal. Está ao alto, esse livro, erguendo à vista a imponência do legado que José Travaços tem produzido. Outro livro, deitado, serve de base à representação férrea, mas também etérea do homenageado, olhando para o Mosteiro que sempre foi a “menina dos seus olhos”. Às muitas dezenas de pessoas presentes na inauguração, foi explicado que o monumento se vê melhor ao longe, tal como do longe do tempo e do espaço se poderá melhor apreciar o valor da figura que se destaca, talvez já não muito conhecida de novas gerações mais desligadas dos livros e do interesse pela memória histórica.

Essa será uma das mágoas do próprio José Travaços Santos. “O património continua a precisar de defensores, (…) é uma guerra de todos nós; todos nós temos obrigação de participar como soldados nessa guerra em defesa do património”, afirmou após a inauguração do monumento com o seu rosto, recordando algumas memórias de tempos tristes em que viu o Mosteiro ao abandono. Com a humildade que o caracteriza, agradeceu a homenagem com o sentimento de não se achar “merecedor”, pois “fiz uma coisa que todos devemos fazer: defender os valores”. E voltou a frisar a importância da investigação, da descoberta da “verdade histórica”, da defesa de todos os patrimónios, incluindo o escrito, deixando em nota final uma observação sobre a boa qualidade de apresentação e de conteúdos dos “jornais da nossa região”.

Este sentimento de cumprimento integral do seu “dever” acaba por ser o principal motivo da homenagem, como sublinhou Adélio Amaro, presidente do CEPAE, em nome do grupo de amigos que organizou a iniciativa. “Figura ímpar”, que não se limitou a fazer bem, mas “sempre se mostrou disponível para partilhar” o seu saber em áreas tão diversas como o associativismo, a etnografia, o folclore, a literatura, a história, tornando-se um verdadeiro “mestre”. O rancho Rosas do Lena lá estava como uma das provas desse trabalho – e iria fazer o encerramento musical da sessão. Além de tudo isso, concluiu, é “um ser humano fantástico, um homem especial” em simpatia e na defesa dos valores em que acredita.

Também Raul Castro, presidente do Município, justificou o apoio à iniciativa e o patrocínio do monumento, decidido por unanimidade pelo executivo, com a justiça da homenagem. E não deixou de lamentar que não houvesse a mesma resposta por parte dos decisores nacionais da cultura para reconhecer e condecorar esta ilustre personalidade batalhense. “Bem tentámos que isso viesse a acontecer, infelizmente não foi possível”.

Para já, está garantida a memória futura de José Travaços Santos nesta vila da Batalha, na praça que tem o nome do militar batalhense Mouzinho de Albuquerque, com o monumento deste novo “soldado da cultura”.

LMF

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