(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>O gato e o guarda-chuva

>O gato e o guarda-chuva

>Há pessoas que teimam em levar periodicamente aos parlamentos a questão da despenalização do aborto. No nosso país – apesar de ainda recentemente, em referendo, a população se ter manifestado contrária ao alargamento do prazo em que os autores do aborto não são penalizados pela lei – já se vai falando em mais uma investida dos interesses pró-abortistas.
Um dos processos do raciocínio, velho como o homem, diz-nos que a realidade das coisas não admite contradição: uma coisa é o que é e não outra coisa qualquer. Por outras palavras, um gato não pode ser um gato e ao mesmo tempo um guarda-chuva: ou é um gato ou é um guarda-chuva.
Portanto, a questão do aborto só admite duas possibilidades.
A primeira é a de que o feto é realmente um ser humano – pequeno e indefeso – que está numa fase de desenvolvimento no ventre de uma mulher. Se assim for, o aborto é talvez o maior dos crimes, a acção mais horrível e monstruosa que os homens podem cometer. E os milhões de abortos cometidos anualmente no mundo constituem o mais sangrento holocausto da História: qualquer coisa tão macabra e ignóbil que de nenhuma forma pode ser admitida por uma pessoa de bem.
A segunda possibilidade é a de que o feto não é uma fase do desenvolvimento do ser humano, mas é qualquer outra coisa. Por exemplo, como dizem alguns, uma parte anómala do corpo da mulher, uma espécie de tumor. Neste caso, pode ser eliminado em qualquer altura, sem que se perceba muito bem por que razão deve a lei meter-se no assunto.
Segundo o tal velho princípio, a realidade não permite que aquilo que está no ventre da mulher seja um bebé no caso de os pais quererem a criança, e não passe de “um tumor” se os pais resolverem não receber a criança.
Um dia, a mulher diz ao marido: Estou grávida; vamos ter uma criança. No dia seguinte resolvem que não querem ter o filho, e a mulher dirige-se a um abortista para que lhe retire um “tumor” do corpo. De um dia para o outro “aquilo” passou de criança a tumor… Então, isto pode ser assim?
Aquilo que a mulher traz dentro de si é uma realidade objectiva: os interesses do casal, ou de quem quer que seja, não pode mudar a realidade daquele ser.
Ou é um bebé ou não é um bebé.
Ora acontece que a ciência nos diz que “aquilo” é um ser humano em desenvolvimento dentro da mãe. Assim aprendem os nossos filhos na escola. De resto, também não era preciso que a ciência falasse: qualquer um vê que se um bebé, ao sair da barriga da mãe, é um bebé, não pode ser outra coisa antes de sair da barriga da mãe. Será mais pequeno, mas os bebés – por serem homens – também não se medem aos palmos…
Depois de assim usarmos o raciocínio – começamos por nos ofender a nós mesmos se procedermos como seres irracionais – resta-nos aplicar aquela expressão, rude mas bela, que o nosso povo conservou: chamar os bois pelos nomes; chamar ao aborto “horroroso homicídio”.
E, depois, actuar de acordo com isso.
Paulo Geraldo
Professor de Língua Portuguesa
pjgeraldo@yahoo.com.br

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