(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>Feriado Municipal de 14 de Agosto | Comemoração dos 622 anos da batalha de Aljubarrota

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As comemorações do dia 14 de Agosto decorreram no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, começando com uma celebração “pelos mortos pela Pátria”, presidida pelo Frei Francisco Rodrigues, vice-postulador da causa para a canonização do beato Nuno Álvares Pereira. Na sua homilia (ver aqui), o carmelita lembrou as virtudes militares, humanas e cristãs do Santo Condestável, “cuja vida de santidade – vida de amor a Deus e à Pátria – está bem patente nos resultados adquiridos, quer na linha das virtudes que culminam com o desprendimento dos seus bens e a entrada como irmão donato no Convento do Carmo, por ele construído; quer no amor à Pátria, oferecendo a sua vida por ela, salvaguardando a sua independência e abrindo o caminho para a gesta dos Descobrimentos e a Missionação de gentes nos séculos XV e seguintes”. “O exemplo de vida e de santidade do beato Nuno, deve ser, hoje, um desafio ao nosso amor pelos mais pobres e à luta pela igualdade entre os homens”, afirmou frei Francisco Rodrigues, lembrando a afirmação de Álvares Pereira: “De todas as coisas que fiz, ‘pai dos desvalidos’ foi o que mais gostei de ser na vida”.
Seguiu-se uma alocução do coronel Valente dos Santos sobre a batalha Real, como lição de “patriotismo, fé, determinação e dignidade” e “motivo de reflexão sobre o passado, para unidos sermos de novo capazes de vencer os desafios do presente e ter direito a futuro feliz”. “A batalha Real tem o mérito de ter iniciado nova era e o mosteiro de Santa Maria da Vitória de ser a ponte que projecta a nação portuguesa no futuro, talvez por isso existam as capelas Imperfeitas de D. Duarte para nos lembrar a obrigação de continuar Portugal”, afirmou o coronel.
A terminar, na Capela do Fundador, procedeu-se à deposição de uma coroa de flores no túmulo de D. João I pelas entidades participantes, como o Governador Civil, os presidentes das câmaras da Batalha e de Porto de Mós, o director do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, e representantes da Casa Real Portuguesa, da Real Irmandade de São Miguel da Ala, da Fundação Batalha de Aljubarrota, da Liga dos Combatentes, do Centro de estudos Portugueses, da Sociedade Histórica da Independência Nacional e de algumas delegações da Real Associação.
Nesta sessão participou, pela primeira vez, a Real Associação de Guarda de Honra dos Castelos, Panteões e Monumentos Nacionais (ou Real Guarda de Honra), criada em Janeiro deste ano, sob a égide do “Istituto Nazionale per la Guardiã D’ Onore alle Reali Tombe del Pantheon”, de Itália.
Entre os vários “guardiões” instituídos, foi nomeado o coronel Valente dos Santos como Comandante Delegado da Legião do Comando de Panteões do Mosteiro da Batalha, e receberam o diploma de Membro Honorário da Guarda de Honra deste Mosteiro o seu director, Júlio Órfão, e o historiador local José Travaços Santos.

Livro de Mapone
Da parte da tarde, no auditório municipal, decorreu o lançamento da obra “Charneca do Algar d`Água – História duma Guerra Intestina no Concelho da Batalha (1882 – 1940)”, da autoria de Manuel Poças das Neves (MAPONE), que contou com a apresentação do professor Candeias da Silva. “Obra de carácter histórico, bem elaborada e metódica, por um exímio contador de histórias, numa prosa digna de um Eça”, assim a resumiu o apresentador.
O autor afirmou ter elaborado este trabalho por amor à sua terra e à “verdade histórica sobre um acontecimento local do passado recente, em relação ao qual várias versões contraditórias ocultavam o que de facto se passou”. E também como forma de agradecer e retribuir a medalha de mérito que, fez nesse dia 10 anos, a autarquia da Batalha lhe atribuiu.
A partir desta mesma obra, como “mais um contributo para a preservação e investigação da história do Concelho”, António Lucas, presidente da edilidade, lembrou a grandiosidade nacional do dia que se celebra no feriado municipal da Batalha, engrandecido com a recente eleição do seu Mosteiro como uma das sete maiores maravilhas arquitectónicas portuguesas. O presidente lembrou ainda a presença de uma delegação da cidade francesa de Joinville-le-Pont, com a qual se pondera um possível processo de geminação, tendo em vista “aprofundar laços históricos, culturais e também económicos” com esta comunidade francesa, próxima de Paris, onde residem tantos emigrantes, também do concelho da Batalha.

“Mosteiro Maravilha de Portugal – O que fazer com ele?”
Esta foi a pergunta-chave da conferência/debate organizada pelo Jornal da Batalha, a encerrar esta tarde comemorativa. Na mesa participaram Elísio Summavielle, presidente do IGESPAR (ex-IPPAR), António Lucas, presidente da Câmara da Batalha, Miguel Sousinha, presidente da Região de Turismo Leiria/Fátima, Júlio Órfão, director do Mosteiro da Batalha, e Alexandre Patrício Gouveia, presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota.
Cada um dos oradores abordou a questão da promoção deste importante monumento nacional, de acordo com as funções que detém, começando pelo próprio director do Mosteiro. Júlio Órfão lembrou que a sua principal preocupação é “proteger, conservar e divulgar”, papel que procura desempenhar, apesar das muitas limitações com que se debate. “Faltam outros ‘chamativos’ no concelho, falta alojamento para fixar mais os turistas, falta concluir o Centro Interpretativo e preparar o acesso à parte superior do monumento, projectos de maior envergadura que estão em fase de implementação, faltam melhorias na zona envolvente, falta a libertação de espaços usados por entidades externas ao Mosteiro”, apontou o director.
Alexandre Patrício Gouveia aproveitou para apresentar alguns dos projectos que a Fundação Batalha de Aljubarrota tem em curso, também relacionados com o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. “A classificação das duas posições do campo de batalha como monumento nacional foi um passo importante para avançarmos com um Centro Multimédia de Interpretação”, afirmou este responsável, que aponta para a ligação fundamental com os centros de interpretação em fase de implementação no campo militar de S. Jorge e no Mosteiro da Batalha, bem como o estabelecimento de uma rede de transportes e a venda comum de bilhetes entre estes três locais, que permita “uma oferta de valor acrescentado que faça deste um dos principais pólos de turismo cultural do País”.
“Potenciar a visita de pessoas e aumentar o turismo de qualidade” é também a aposta da Região de Turismo Leiria-Fátima. Miguel Sousinha lembrou que “o mercado é mais exigente quanto à verdade da oferta”, pelo que a política de turismo e de cultura deverão estar em estreita colaboração na procura de novas propostas e dinamismos”, lançando como exemplo a possibilidade de um “hotel temático” na Batalha.

Que as relações entre as entidades locais e o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) nunca foram boas, não é segredo para ninguém. Mas essa é uma imagem que o presidente do novo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) que limpar. “Temos agora uma ‘ligação de telemóvel’ e estamos disponíveis para colaborar com todos os outros parceiros para encontrar soluções”, afirmou Elísio Summavielle. “O património é talvez a mola mais importante para o futuro do nosso país e há que pensá-lo em rede, neste caso, com Alcobaça e Tomar”, defendeu este responsável, anunciando que para a Batalha este definido um investimento na ordem dos 7,5 milhões de euros, até 2015. “Este ano dedicámo-nos ao trabalho invisível da conservação do monumento, paredes e vitrais, e vamos já começar a trabalhar, com as Estradas de Portugal, na solução para o problema da passagem do IC2 às portas do Mosteiro, seguindo-se a criação de condições de acessibilidade ao piso superior, a elaboração do centro interpretativo, a criação de uma cafetaria e o tratamento da zona envolvente”, concluiu, pedindo alguma compreensão para as condicionantes impostas pela UNESCO.
Estas foram boas notícias para António Lucas, que reconheceu haver no presente uma boa relação com o IGESPAR, que permitirá “encontrar pontes para resolver os problemas do Mosteiro e promovê-lo numa rede integrada de turismo cultural”, numa região que considerou “um colar de pérolas” na oferta turística que representa. “A oferta de qualidade que pretendemos implica, também, uma mudança de atitude da população local e dos comerciantes em particular, que frequentemente misturam o artesanato com outro ‘lixo’, e dão uma má imagem da zona envolvente deste monumento”, avisou, no entanto, o presidente, defendendo uma visão mais abrangente da oferta turística do concelho, como a ponte da Boutaca, recentemente restaurada, o programa cultural diversificado da autarquia, o património natural em redor, as igrejas, os museus, os espaços verdes, o centro de paleontologia, o parque eco-sensorial da Pia do Urso, a gastronomia local, a possibilidade de reabertura das termas das Brancas, etc.

António Lucas não terminou, porém, sem um lamento pela fraca participação dos batalhenses neste debate – estavam cerca de 40 pessoas –, no qual seriam os principais interessados, “a começar pelos fazedores de opinião”.
No espaço dedicado às intervenções do público, destaque para a “preocupação” apresentada pelo historiador Saul António Gomes pelo pouco aproveitamento que se dá ao património intelectual do País, nomeadamente pelas televisões, um espaço que deveria ser também alvo de maior exigência dos seus responsáveis. Saul Gomes aproveitou ainda para corrigir o presidente do IGESPAR – que havia afirmado ser o Mosteiro dos Jerónimos o recordista nacional de bilheteira, com cerca de um milhão de entradas -, referindo a passagem pela Batalha de “seguramente mais de 3 milhões de pessoas, de entre os 5 milhões que visitam anualmente o Santuário de Fátima”. Recorde-se que o turismo religioso é algo que o Governo parece querer ignorar, desconsiderando-o totalmente na sua estratégia promocional, quando, na nossa região, é o grande motor de visitas…
Vários participantes manifestaram ainda a sua preocupação pela falta de solução de problemas tão antigos como o arranjo da zona exterior às Capelas Imperfeitas, ou o desvio ao IC2. A resposta do painel de oradores foi sempre de confiança na proximidade dessa solução, embora sem data marcada… “prometo trabalho, não posso prometer que tudo seja resolvido”, concluiu o presidente do IGESPAR.
A tarde terminou com o Encontro Anual de Emigrantes da Batalha, com algumas centenas de pessoas em confraternização no pavilhão multi-usos da vila,
Luís Miguel Ferraz

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