(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Mosteiro: meios de medir e prever o tempo

Mosteiro: meios de medir e prever o tempo

José Travaços Santos

São coisas que nos passam despercebidas, mas que o leitor irá achar curiosas.
No Mosteiro de Santa Maria da Vitória há dois meios de medir o tempo e um para o prever.
Antes dos relógios mecânicos, as horas do dia iam-se sabendo pelos relógios de sol, colocados verticalmente, na maior parte dos casos, ou horizontalmente. Ambos estão espalhados pelo monumento, sendo o mais visível e conhecido o que se encontra nas proximidades da porta sul da igreja conventual. Um semi-círculo gravado no calcário, numeração romana e um longo ponteiro de ferro com a devida inclinação para fazer a sombra correcta a marcar as horas.
No Claustro Real, um horizontal, num dos arcos, ou melhor: no parapeito de um dos arcos da proximidade da Fonte dos Frades, cujo papel de ponteiro é desempenhado por um colunelo da ornamentação manuelina. Outro, também horizontal, está no piso superior do claustro de D. Afonso V. Vários verticais, evidentemente sempre no exterior e virados a Sul, encontram-se noutros locais do edifício.
Depois dos antiquíssimos relógios de sol, surgem os relógios mecânicos e um dos mais antigos do nosso País estava no Coruchéu da Cegonha, nome que designa a sua torre principal, e hoje, velhinho e achacado pelos anos e pelos cataclismos, jaz exposto, o que dele sobrou, no piso superior do Claustro de D. Afonso V, tendo sido substituído no século XIX pelo que ainda lá se encontra, mas reduzido ao silêncio, em virtude do toque dos seus grandes sinos provocar vibrações que afectam a debilitada estrutura da imponente torre. (A propósito, convém lembrar que as potentes aparelhagens sonoras e os foguetes exercem em todo o monumento idêntica acção desgastante).
Nesta torre, abalada já pelo terramoto de 1755, cerca de 50 anos depois, durante forte trovoada, caiu uma faísca que a fez ruir em parte e que, com certeza, danificou o primitivo relógio. Os estragos só foram reparados no tempo da direcção das obras de restauro do arquitecto Lucas José dos Santos Pereira (1852-1884), altura também em que se coloca aí o pára-raios.
Durante séculos, as badaladas do relógio conventual iam marcando o dia dos habitantes da Vila e dos lugares vizinhos, onde se ouviam perfeitamente. Era o único relógio mecânico a servir com rigor as comunidades batalhenses.
Mas o monumento dispõe, noutra torre, dum pequeno campanário gótico, erguido junto ao telhado de protecção da abóbada da Casa do Capítulo e cujo sino único tanto chamava os fiéis à oração como, tocado a rebate, alertava a população ou pedia socorro para alguma desgraça, campanário encimado por uma bandeirinha de ferro que, há séculos, também, mantém fielmente a sua função de catavento, sempre rigorosa, a dizer-nos de que lado está o vento e, assim, a informar-nos do tempo que virá: do Norte frio, do Noroeste chuva gelada e miudinha, do Sul suão no Verão e chuva no Inverno mas com subida de temperatura, do Leste trovoada ou tempo seco e do Oeste chuva.
Mas ainda tem outra, conforme a crença popular: na noite de Natal, de onde sopra o vento, assim será predominantemente o ano inteiro.
Ai, se sopra de Leste, sinal de ano de sequeiro!

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