(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Entrevista ao padre João da Felícia: “É uma vida doada. Deus seja louvado! Estou feliz!”

Entrevista ao padre João da Felícia: “É uma vida doada. Deus seja louvado! Estou feliz!”

João Monteiro da Felícia nasceu a 6 de Abril de 1937, na Golpilheira, filho de Maria Joaquina  e José Monteiro da Felícia. Entrou no Seminário, em Fátima, no dia 15 de Outubro de 1952, onde fez os seus estudos, e foi ordenado padre a 17 de Dezembro de 1966. A 20 de Novembro do ano seguinte, parte para a sua primeira missão, em Moçambique. Ao longo da vida, além da pastoral, dedicou-se ao estudo, sendo formado em Filosofia e Teologia e com cursos de especialização em Psicologia, Pedagogia, Espiritualidade e Hebraico Bíblico.

Aproveitando a sua vinda à nossa terra, que já não visitava há 4 anos, e no contexto das Bodas de Ouro sacerdotais que está a celebrar, fomos conversar com ele sobre a história, a vocação e a vida.

Depois de ler a entrevista, inscreva-se na festa das suas bodas de Ouro, que a Comunidade Cristã da Golpilheira vai organizar, no domingo 24 de Setembro.

Entrevista de Luís Miguel Ferraz

 

Quais as melhores recordações da sua infância na Golpilheira?

Os professores e os companheiros da escola. A catequista, a Primeira Comunhão, a Comunhão Solene e o Crisma na Batalha. As descamisadas no serão da noite, as brincadeiras e os cantos da desfolhada. As Missas dominicais e as festas do Padroeiro. A família e os amigos que recordo até hoje.

 

Que imagem guarda da nossa aldeia nesses tempos?

Uma aldeia simples, pobre e pacata, onde pouca coisa havia, mas com gente simples, sofrida e com muito calor humano. Não havia estudos além da 4.ª elementar, não havia trabalho para toda a gente, mas cada família se arranjava como podia. Havia muita alegria na nossa terra. Era terra boa para se viver.

 

Como surgiu a sua vocação?

Já tinha uma tendência para as coisas de Deus, que se fortaleceu com o serviço de ajudante da Missa. O padre vinha do convento dos Franciscanos de Leiria e o sr. Afonso Pereira dava o transporte e a comida. A vocação concretizou-se aos 15 anos, quando entrei no Seminário da Consolata, em Fátima.

 

Como foram esses tempos de Seminário?

Foram muito bons: bons professores, bons companheiros e boa disciplina. Confirmo que o tempo da formação, seja em Portugal seja na Itália foi muito bom.

 

E 50 anos depois, ainda se recorda como foi a celebração da ordenação?

Fui ordenado em Itália. Éramos 47 jovens que aceitámos o desafio da missão. A primeira Missa foi na Golpilheira e a comunidade cristã fez uma festa muito grande que eu não esperava. Sempre fiquei grato ao meu povo amado e querido da Golpilheira, incluindo também o povo da Batalha, os familiares e os amigos.

 

E recorda o que sentiu nesse dia?

A imensa alegria de ter chegado à meta final. O meu bom povo fez-me entender ainda melhor o valor de ser sacerdote e sacerdote missionário.

 

Que sonhos tinha quando iniciou o seu sacerdócio?

Os meus sonhos se reduziam apenas a um: ser missionário. Concretizei o sonho partindo para as missões de Moçambique, onde fiz a minha primeira experiência. Foi uma experiência excelente.

 

Portanto, cumpriu-se o sonho…

Acredito que sim, com a ajuda de Deus e das “três Marias” que fui encontrando ao longo do caminho. A primeira foi Nossa Senhora de Fátima. A segunda foi Nossa Senhora da Consolata e a terceira foi Nossa Senhora Aparecida. O Instituto favoreceu-me muito, deixando-me trabalhar em várias partes do mundo e em várias actividades.

 

O que significa ser padre e, concretamente, ser missionário?

Na verdade, sempre desejei servir os outros em missão. Servir os mais necessitados de tudo. Vivi esta doação com alegria. Quando entendi que a Igreja é missionária na sua raiz, disse a mim mesmo que tinha acertado a vocação. Hoje continuo feliz na missão.

 

Quais as principais missões e tarefas que assumiu?

Exerci muitas tarefas, mas vou facilitar dizendo: formação em Portugal e no Brasil, animação missionária e pastoral.

 

Quais as que mais o marcaram, pela positiva e pela negativa?

Pela negativa, às vezes desejar fazer outras actividades e devido aos trabalhos que me eram atribuídos não poder fazer. Positivos, a maior parte deles, só para não dizer todos. Quando se fala de Jesus, não há trabalhos negativos. Continuar evangelizando é o máximo!

 

Então, há alguma coisa que gostaria de ter feito e não pôde…

Sempre há algo que dá maior satisfação pessoal, ajudando a nossa realização pessoal, e na missão nem sempre é possível. Mas eu não desanimo, pois há sempre a esperança de um depois.

 

Qual a nova missão que vai assumir quando regressar ao Brasil?

Depois de três anos no Nordeste, onde tinha 75 comunidades, a matriz pediu-me para descer para São Paulo e irei trabalhar na paróquia de São Marcos. No tempo oportuno mandarei algumas fotos e indicações concretas sobre a nova missão. A missão é bonita porque tem sempre um novo desafio.

 

Não pensa no regresso ou numa vida mais descansada?

Não penso mesmo nisso. Não é o meu estilo. O meu fundador, José Allamano, dizia que o missionário deve ficar até ao fim. É isso que eu penso também.

 

Mas tem saudades da sua terra…

Certo. Sou filho duma terra bonita. Sou filho duma família que me apoia. Sou filho duma comunidade que me acompanha. Nunca posso esquecer a minha terra natal.

 

Que diferenças encontra hoje?

A nossa terra agora está bonita, mais arrumada. As pessoas vivem melhor. Aprecio a paisagem bonita e agora o local da oração, a igreja, ficou muito linda mesmo. Parabéns ao padre José, à Comissão da Igreja e ao povo e a todos os que fizeram acontecer o projecto. Parabéns!

 

Enviamos há muitos anos o Jornal da Golpilheira. Ajuda a matar essas saudades ?

Ele me deixa sempre bem informado e actualizado. Quando ele chega, leio-o de fio a pavio. Quando tenho tempo, dou uma palavrinha agradecendo. Mas aproveito para agradecer esta oferta muito preciosa para mim. O nosso Jornal é uma forma excelente de ficar ligado aqui com todos vocês. Bem hajam! Muito obrigado!

 

E a nossa campanha “Pão para as crianças do padre João”, tem correspondido às expectativas?

São Paulo nos deixou escrito que “a fé sem obras é morta”. Para que a fé não morra, precisa de obras. As obras são um termómetro da fé dos católicos.

Agradeço de coração a quantos ajudam a minha obra de evangelização. Na verdade, a Golpilheira e a paróquia da Batalha têm um filho da terra que está em missão e que precisa da ajuda concreta dos católicos da sua comunidade.

Com o que vocês me mandam, vou ajudando famílias mais carentes que precisam verdadeiramente de ajuda para sair de uma situação especial em que se encontram. Não encontram ajuda… onde vão? Vão ter com o padre, que sempre dá alguma coisa para resolver uma situação concreta.

No meu entender, a campanha não pode parar. Vocês têm um dever com este vosso filho missionário. Lembrem-se de que “o pouco com Deus é muito”.

 

Por fim, uma mensagem aos seus conterrâneos, neste ano celebrativo das suas bodas de ouro…

Quero alegrar-me com os meus irmãos e irmãs da mesma fé, dizendo que a missão nunca acaba. A evangelização que eu faço é também uma evangelização feita por vocês. É assim que eu entendo a missão. Vocês, irmãos, tendes um filho que está longe e que deve sentir o vosso carinho, a vossa presença e a vossa ajuda.

Neste ano, vim visitar-vos com três objectivos bem concretos: celebrar os 65 anos de entrada no Seminário de Fátima, os 50 anos de sacerdócio e os 80 de vida. É uma vida doada. Deus seja louvado! Estou feliz!

A todos e todas agradeço de coração e peço súplicas a todos  vocês para mim, a fim de que eu possa continuar a evangelizar os mais pobres na nova realidade que vou enfrentar. É um grande desafio, mas acredito que, com vocês ao meu lado, vou conseguir realizar a missão que nestes dias me foi confiada. Deixo para vocês a minha bênção!

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