(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>II Fórum do Associativismo do Concelho

>II Fórum do Associativismo do Concelho

>O Município da Batalha, em colaboração com o Museu da Comunidade Concelhia, levou a efeito, durante a tarde de 24 de Novembro, na Sociedade Recreativa Relvense, em Casal do Relvas, o II Fórum do Associativismo do Concelho, alusivo à temática “Associativismo – Factor de Desenvolvimento Local”.
Com o objectivo de dar continuidade ao encontro realizado no ano transacto, pretendia-se, no corrente ano, proporcionar a troca de conhecimentos, através da partilha de experiências associativas, da divulgação de programas de apoio ao associativismo e de outras subvenções disponíveis, facultando um espaço para o esclarecimento de questões e de resolução dos problemas que surgem entre as colectividades.
Para tal, o fórum contou com a presença de um conjunto de oradores que, pela sua experiência académica e profissional, contribuíram para enriquecer o debate e trazer algumas ideias muito úteis aos que andam envolvidos neste sector do associativismo. Por isso, achamos por bem deixar um resumo das várias intervenções, com as quais todos podemos aprender um pouco.

A importância das associações
A abertura esteve a cargo de Ana Helena, da direcção da Sociedade Recreativa Relvense, que deu as boas-vindas e saudou todos os presentes, desejando que este debate produzisse frutos no futuro do associativismo.
Depois foi a vez de António Meneses Teixeira, do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, que, em poucas palavras, mas objectivas, alertou todos os presentes para a necessidade de preservarmos o nosso património, não só arqueológico, mas também actividades já extintas, mas que em tempos contribuíram para o desenvolvimento de algumas aldeias em particular e do concelho em geral.
António Lucas, presidente da Câmara Municipal da Batalha, depois de agradecer aos convidados e oradores, agradeceu também à Sociedade Recreativa Relvense, que desde a primeira hora se disponibilizou para esta iniciativa. Começou por afirmar que as colectividades e associações têm cada vez mais um importante papel na nossa sociedade. Sociedade que cada vez mais privilegia o individualismo e o egoísmo, tornando as relações humanas cada vez mais frias. As novas tecnologias isolam as pessoas. Cada vez há mais dificuldade em recrutar elementos para as direcções das associações. Salientou a importância duma cooperação intensa entre as colectividades e a autarquia. Informarem-se e aproveitarem os mecanismos de apoio, que são sempre poucos. Até final deste mês, as colectividades podem candidatar-se a projectos de investimento e financiamento. Deve haver cada vez mais uma responsabilização mútua. Aconselha a incrementação, cada vez mais, de parcerias. As colectividades deverão elaborar, para além dos seus orçamentos anuais, também o seu plano de actividade, para assim possibilitar à autarquia a atribuição de subsídios previamente orçamentados. Os subsídios avulsos vão acabar. Aconselhou ainda que as direcções das associações sejam pelo período de dois anos, tornando mais consistente o seu mandato.
Francisco Freitas, presidente da Assembleia Municipal da Batalha, afirmou que este debate é fundamental para a nossa vida quotidiana e felicitou a autarquia da Batalha por ter projectado este debate para bem das associações. Afirmou que os prémios (subsídios) devem ser para quem trabalha. Enalteceu o trabalho dos órgãos directivos de todas as associações, que com o seu trabalho voluntário e muita dedicação, muita responsabilidade, por vezes pouco reconhecido pelos outros, em muito contribuem para o desenvolvimento cultural, desportivo e recreativo de todos os locais onde as mesmas existem.
Adelino Mendes, adjunto do Governador Civil de Leiria, começou por realçar o papel do associativismo na sociedade portuguesa. Salientou a importância deste debate e reflexão sobre o momento do associativismo e que constitui um património muito rico. “O desenvolvimento da actividade desportiva, cultural, recreativa, artes e património, enriquece toda a vida da aldeia, do concelho, do distrito, enfim, do País”. A sociedade nos últimos anos tem sofrido grandes mudanças. Há uma maior desagregação da vida social. Cada vez mais exigências familiares. È necessário que as colectividades saibam conviver com estas mudanças e esta nova realidade. Instalações próprias, feitas à medida dos recursos, aproveitando ainda o trabalho voluntário. Passamos por um grande momento de transformação das associações. Novos desafios, como a especialização em algumas actividades. Maior profissionalismo dos professores e monitores. Especializar as instalações, adequando-as ao tipo de actividades a desenvolver. Tendência para se especializarem na prestação de serviços à comunidade e à família. Constituição das associações em IPSS, para o desenvolvimento do apoio domiciliário. A formação (crianças, jovens e adultos) na cultura, desporto, artes, etc. Formação cada vez mais exigente com pessoas realizadas. Contribuir cada vez mais para a qualidade de vida da comunidade. Mais igualdade de oportunidade aos cidadãos que vivem nas áreas de implantação das colectividades. Criar aos jovens oportunidades de desenvolver algumas actividades, que de outra forma era impossível. O dinamismo das comunidades tem nas colectividades um grande papel. Quanto aos apoios, o Governo Civil, de há dois anos para cá, não tem subsidiado as colectividades. Tem estado virado o seu esforço principalmente para as associações humanitárias e bombeiros. Para o ano de 2008, para além destas instituições, vai apoiar as empresas de segurança rodoviária.
Augusto Flor, presidente da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, começou por destacar a importante actividade das colectividades, que com as autarquias representam o poder local. A empatia entre ambos deve existir sempre. As autarquias devem privilegiar as parcerias com as associações. Grande parte dos autarcas foram dirigentes associativos. Existem cerca de 17 mil colectividades no nosso país, que mobilizam cerca de 221.000 dirigentes, que são mais do que todos os autarcas eleitos, mais do que todas as forças armadas e todo o pessoal que está ligado à ordem pública. São grandes forças no poder local (sociológico, económico, desenvolvimento antropológico, desenvolvimento económico, etc.), que produz riqueza material e espiritual. O movimento associativo tem possibilidade de fazer receitas através dos subsídios do Estado. Mas estes não podem ser encarados como uma dádiva, mas uma compensação pelo trabalho dos seus dirigentes (política associativa). Quando estiverem sozinhos, em dificuldade, devem lembrar-se que estão sempre apoiados e pertencem a este grande “exército”, quem sem a actividade do mesmo, o País seria diferente, para pior.

Partilha de experiências
Num segundo painel, António Simões, representante da Sociedade Recreativa Relvense, começou por descrever o historial desta associação: “A Sociedade Recreativa Relvense está a festejar os seus 40 anos, tendo como base a publicação do seu estatuto. Contudo, o nascimento real vem do ano de 1963. Nasceu de uma necessidade colectiva, a compra de um televisor. Nesta data, só no Entroncamento de S. Jorge havia um estabelecimento público com televisor e ficava a 6 Kms de ida e volta. O povo deste lugar já tinha mostrado ser um povo com entusiasmo associativo, como demonstrou em 1944, na construção da Capela e em 1957 na ligação da energia eléctrica da Calvaria de Cima para cá. Combinada a quotização e consumada a compra do televisor, foi aproveitado o entusiasmo e mantida a quotização com vista ao avanço de outros eventos. Foi, portanto, em 1963, que nasceu a primeira acção associativa da colectividade. A partir daqui, correndo alguns riscos de ilegalidade durante quatro anos, fomos avançando com actividades de satisfação para todos. Temos que encarar as coisas com realidade, porque da vintena de entusiastas da altura, apenas restamos três ou quatro. A partir de 1967, já com toda a legalidade estatutária, foram aparecendo os mais jovens, de acordo com a sua vontade e disponibilidade, notando-se hoje muitos jovens de ambos os sexos, como elementos da direcção. Quanto a instalações, foram sendo adquiridas e melhoradas ao ponto de possuirmos esta sede no centro do lugar e a 500 metros um parque desportivo, de que muito nos orgulhamos. Temos várias festividades durante o ano, sendo de salientar as efemérides do aniversário da colectividade, o almoço convívio do 25 de Abril, a participação nos cortejos de Carnaval e outras que por vezes surgem. Tem havido com as autarquias, Câmara Municipal e Junta de Freguesia, uma boa relação, como demonstra este evento”.
Edite Dinis, da associação “Os Malmequeres”, de Leiria, partilhou também o percurso desta associação, que tem como principal função acolher deficientes, a partir dos 16 anos. Esta associação nasceu em 1988, com o objectivo de resolver o problema de alguns pais, mais concretamente, mães que tinham em mãos o acompanhamento de filhos com um certo grau de deficiência. Não foi fácil, mas o trabalho encetado e a procura de apoios deram os seus frutos. Todos estes deficientes têm algumas capacidades, que é preciso aproveitar. Um grande passo foi dado com a criação em IPSS, possibilitando assim apoios da Segurança Social, através da assinatura de um protocolo. Era necessário ocupar os utentes desta associação em alguma actividade. Surgiu a ideia da construção de brinquedos em madeira, o que foi um sucesso. Com a construção destes brinquedos, abriu-se a instituição ao exterior, valorizando o trabalho dos utentes e possibilitando a visita dos alunos das escolas. Depois, chegou-se à conclusão de que era mais viável levar os brinquedos às escolas, o que tem sido um sucesso.
Ana Simões e Fátima Vicente falaram com entusiasmo sobre o seu projecto, “À Descoberta de Ju”, desenvolvido no Núcleo de Intervenção Comunitária (NIC) de Castro de Aire. Agradeceram o convite que lhes foi feito para poderem partilhar um pouco do seu recente percurso, manifestando o interesse de eventos como este. O seu projecto tem por objectivo criar mais capacidade adaptativa e reparação no futuro da forma de ser e de estar em sociedade. Este é um projecto de jovens e para jovens, mas com a necessária ajuda dos adultos. Tem finalidade a aproximação entre os jovens, prometendo que “no futuro vamos, com certeza, ver, ouvir e falar de “JU”, uma história que dá para meditar”.
Luís Pinto, dirigente do Clube Académico de Leiria desde a sua fundação, começou por afirmar que as associações são uma escola de democracia. São espaços de participação, sem os quais muitas actividades não se efectuavam. O Académico de Leiria nasceu em Agosto de 1974, portanto no ano do 25 de Abril. Os seus fundadores foram 4 jovens, entre os 13 e os 15 anos. A sua sede era na encosta do Castelo. As primeiras modalidades praticadas foram o futebol e o atletismo. Em 1975, tiveram uma vice-campeã nacional de atletismo. Em 1976, foi o início da prática do andebol, de maior aposta na formação e de sucesso da competição. Em 1978, veio a sua legalização, altura em que os seus fundadores atingiram os dezoito anos. Em 1980, tiveram o primeiro grande abanão, foram tomadas as primeiras grandes decisões, depois duma grande reunião sobre o futuro. Esteve mesmo em risco a continuidade do Académico de Leiria. Decidiu-se pela continuidade. Mas colocaram-se as primeiras grandes questões. Havia projectos, mas como financiá-los? Estes objectivos passavam por servir a comunidade e prestar serviços: campos de férias, desporto nas escolas, concertos, natação, projectos pontuais. “Conseguimos com o nosso esforço, o reconhecimento por parte da sociedade do nosso trabalho, começando a acreditar em nós, romper as barreiras das dificuldades”. O sucesso da associação é a quantidade de informação que consegue transmitir. Sucesso desportivo com a formação mais forte. Imagem, marketing, investimento e novidade. Modo de sonhar. São os ingredientes indispensáveis para o sucesso. Em meados da década de 90, o clube vivia pela primeira vez com algum desafogo financeiro. Risco, muito trabalho e dedicação foram a chave do sucesso. Os jovens reviam-se no Académico tendo orgulho em representá-lo, colocando de lado outros clubes da cidade com mais nome mas com muito menos mística. Os professores acreditavam no sucesso do Académico, trocando algumas vezes o serviço nas escolas, pelo projecto do clube, acreditando nele. Na década de 2000, novas grandes alterações. “Começamos a direccionar a nossa actividade também para a área social; vendo o percurso do Académico, podemos constatar que vivemos de ciclos”. Nos novos desafios contava-se a Inserção Social e Laboral de Toxicodependentes, procurando ter cada vez mais influência nos jovens que em adultos serão a chave para a continuidade do sucesso. “Inovação, como o andebol de praia, têm contribuído para a nossa estabilidade e muitas das nossas actividades têm a ver com a troca de experiências com outras associações, não só de Portugal, mas também estrangeiras”.
Carlos Agostinho, técnico da Câmara Municipal da Batalha, passou a informar os presentes dos vários programas de apoio às colectividades. Alertou no entanto para a burocracia dos documentos a preencher. No entanto, mostrou a disponibilidade dos serviços da autarquia para ajudar a ultrapassar as dificuldades do preenchimento da documentação. Deve haver linhas orientadoras, para acertar o programa de apoio com os objectivos a atingir. Quanto ao QREN, informou que não devemos ter expectativas exageradas. Aconselhou o encontro de parcerias fortes e apresentações de projectos coerentes com a actividade de cada associação. Alertou ainda que há candidaturas que terminam no final deste mês e que visam o apoio ao investimento, cujo subsídio vai até 15 mil euros. Esta é a primeira fase. Quanto à segunda fase, que decorre durante o mês de Maio de 2008, visa o apoio ao funcionamento (recreativo, social, cultural e desportivo), cujo montante vai até 2.500 euros.

Convívio
Houve ainda a apresentação da nova área do “Associativismo” na página da internet da Câmara Municipal, onde cada associação pode ter o seu espaço, apresentar as suas actividades e ter acesso a documentos e formulários importantes para a sua actividade. Segundo Rui Cunha, assessor de imprensa da autarquia, “pretende-se, com este espaço, encurtar a distância entre autarquia e as diversas colectividades, disponibilizando informação variada, num espaço que se pretende participado e em constante actualização”, pelo que se solicita a todos os visitantes as suas opiniões e sugestões, de forma a poder melhorar o serviço.
Depois, todos foram convidados para um lanche convívio, muito bem recheado, com a animação do Rancho Folclórico do “Penedo”, da Quinta do Sobrado.
Em conclusão, podemos afirmar que foi uma sessão bastante enriquecedora, onde pudemos apreciar a forma como todos os intervenientes apresentaram o seu trabalho. Todos com um brilho nos olhos, com sorrisos rasgados, demonstrando assim o amor com que dirigem os seus projectos, as suas associações e a sua autarquia. A plateia foi numerosa, bastante atenta e participativa.
Manuel Carreira Rito

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