(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>Entrevista ao professor Manuel Ribeiro | “Há um bom ambiente neste estabelecimento de ensino”

>Entrevista ao professor Manuel Ribeiro | “Há um bom ambiente neste estabelecimento de ensino”

>A encerrar o ano lectivo, entrevistámos o professor Manuel Ribeiro, responsável da Escola do 1.º Ciclo da Golpilheira. Quisemos saber como decorreu o ano escolar, qual a sua leitura da actualidade do ensino e como as crianças da nossa freguesia vivem esta importante fase do seu crescimento. E perguntámos também o que poderá ser melhorado para um ensino com mais qualidade.

Em linhas gerais, como decorreu este ano lectivo na escola da Golpilheira?
Os programas curriculares foram cumpridos. Claro que há sempre alguns alunos que o não conseguem. É uma situação lamentável, mas que acontece. Em geral, os alunos obtiveram um bom aproveitamento. No entanto, o objectivo é sempre melhorar os seus níveis de competências. Para isso, é preciso continuar o trabalho com muito rigor e empenho. Assim será, estou certo, com os professores e espero que o mesmo aconteça com a restante comunidade educativa. É urgente que todos nós, professores, encarregados de educação, incutamos nos alunos maior cultura de responsabilidade. Só assim os nossos educandos estarão preparados para enfrentar e vencer os desafios com que se irão deparar ao longo das suas vidas.

Quais os aspectos que destacaria, pela positiva e pela negativa?
O empenho da grande maioria dos nossos alunos e restante comunidade educativa, a colaboração entre pais, auxiliar de acção educativa, animadoras e professores, terão sido os aspectos de maior relevo, pela positiva. A falta de colaboração de alguns encarregados de educação, será um dos aspectos a melhorar no próximo ano lectivo.

Considerando as novidades que têm sido apresentadas nos últimos anos, desde os programas às ferramentas de trabalho, qual a sua opinião quanto ao estado do ensino primário actual?
Os professores já eram obrigados a fazer formação para poderem progredir na carreira. O Ministério da Educação promoveu acções de formação para professores nas áreas de matemática, língua portuguesa e das ciências experimentais. A nossa escola recebeu alguns materiais de laboratório, pelo facto de alguns dos seus professores terem frequentado a formação em ciências experimentais. Foram implementadas, como todos sabem, as Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC): música, desporto e inglês. Considero que todas estas medidas são positivas. Os professores serão, certamente, melhores professores e o desenvolvimento dos alunos será seguramente mais equilibrado e multifacetado. No entanto, ao seleccionar-se os professores que irão leccionar as AEC, deveria haver maior preocupação com a sua formação pedagógica para trabalhar com este nível de ensino. Trabalhar com o 1 º ciclo, dada a faixa etária dos alunos, não é a mesma coisa que fazê-lo noutros níveis de ensino. Um melhor conhecimento da natureza dos alunos do 1 º ciclo ajuda-nos a motivá-los, não só para as aprendizagens, mas também para que assumam melhores atitudes comportamentais. Aliás, é o comportamento de alguns alunos o grande obstáculo ao normal desenvolvimento das actividades de enriquecimento curricular. Estas deverão ser abordadas de uma maneira lúdica, mas sempre com a preocupação de adquirir competências, caso contrário, fica a ideia que as AEC servem para guardar e manter os alunos ocupados até às 17h30. É necessário que os pais sintam que aquelas actividades são importantes para um harmonioso desenvolvimento dos seus filhos e que lhes transmitam isso.
A implementação de uma cultura de trabalho, de disciplina, de rigor, ajuda os nossos alunos a adquirir hábitos de maior responsabilidade e a prepará-los para enfrentar e vencer as dificuldades com que se irão deparar ao longo das suas vidas. Estas são, em minha opinião, as atitudes, que professores e pais, em estreita colaboração, deverão incutir nos alunos, para assim combater uma cultura de facilitismo, que se instalou e que tão prejudicial é para que a instituição escola possa ajudar as crianças a serem mais capazes de ultrapassar os desafios ao longo da vida.

As novidades tecnológicas, como o “Magalhães” e os quadros interactivos também já chegaram à nossa escola. Acha que são, de facto, uma mais-valia e são bem aproveitados pedagogicamente para uma melhor aprendizagem dos alunos?
Os quadros interactivos estão apetrechados com software que se pode considerar adequado para todas as áreas curriculares e são, por isso, uma excelente ferramenta, que muito irá ajudar no processo ensino/aprendizagem. O computador “Magalhães” pode ser uma mais-valia. Contudo, os professores têm programas a cumprir e não é possível fazê-lo, trabalhando com ele nas aulas. Seria um trabalho demorado e nem todos têm o computador. Se fosse instalado o software do “Magalhães” no quadro interactivo, seria mais fácil e prático trabalhar com alguma regularidade na sala de aulas. Penso que se justifica a implementação de uma disciplina de informática como AEC, e assim rentabilizar-se-ia o investimento que o País fez naquele computador.

Em relação, concretamente, às crianças da Golpilheira, considera que estão bem integradas na escola e a viver de forma plena esta fase do seu crescimento?
A resposta a esta pergunta está muito no que afirmei atrás. No entanto, pode-se afirmar, que estão bem integradas na escola e a viver harmoniosamente e com alegria esta fase de crescimento. Há um bom ambiente neste estabelecimento de ensino.

A relação entre a escola e a comunidade é satisfatória, nomeadamente, através da participação dos pais no processo educativo?
A relação entre a escola e a comunidade é em minha opinião muito boa. A Comissão de Pais é dinâmica, atenta e particularmente sensível a tudo o que se passa na escola. Esta realiza muitas actividades de carácter cultural e lúdico (teatro, festa de Natal, visitas de estudo, dia internacional da criança…) e isso deve-se muito ao facto de os pais estarem organizados e representados numa comissão interventora e sempre pronta a colaborar com a escola, seja patrocinando ou sugerindo actividades. Toda a comunidade educativa se deve empenhar em manter esta dinâmica e para isso não se pode deixar “morrer” a Comissão de Pais.

Quanto às instituições com tutela no sector, desde o Ministério da Educação e DREC às autarquias locais, acha que têm correspondido ao que se esperaria delas em investimento escolar?
O trabalho do Ministério da Educação é essencialmente de natureza organizacional. É esta a minha sensação. Julgo que a tutela podia e devia fazer mais, no sentido de restaurar a credibilidade e a “autoridade” do professor, que está, se assim se pode dizer, pelas ruas da amargura. Este facto dificulta muito a acção do professor perante a comunidade educativa e é a principal razão do alastramento da indisciplina nas escolas. Não é, felizmente, o caso na escola da Golpilheira. De acordo com um estudo recente, os professores desperdiçam, em média, 25% do seu tempo de trabalho a mandar calar os alunos. Aqui, os alunos da Golpilheira não estão fora desta realidade. São crianças simpáticas, mas muito conversadoras e esta realidade é preocupante e é o principal factor para a falta de aproveitamento de alguns alunos e um forte obstáculo a um ambiente propício a uma boa aprendizagem.
A Câmara Municipal da Batalha e a Junta de Freguesia da Golpilheira têm correspondido muito bem ao que delas se espera, embora haja sempre qualquer coisa mais a fazer. A escola da Golpilheira precisa – é mesmo urgente – que o ringue seja coberto, porque no Inverno, com o frio e a chuva, os alunos ficam no corredor a brincar e este não tem espaço nem condições. Quando isto acontece, as crianças ficam mais agitadas e é mais difícil trabalhar com elas. Sei que a Junta e a Câmara estão atentas e são sensíveis a esta situação e que têm vontade de a resolver. Estou certo de que o irão fazer. Uma escola com boas infra-estruturas recreativas é também um local mais aprazível e mais motivador para todos os que a frequentam, sendo também, por isso, mais uma ferramenta que o professor pode explorar no sentido de motivar os alunos para as aprendizagens.

Olhando já à preparação do futuro, o que gostaria que fosse melhorado no próximo ano lectivo na escola da Golpilheira, para um maior aproveitamento de alunos, pais e professores?
A resposta a esta pergunta encontra-se em tudo o que disse atrás. Contudo, se todos nós transmitirmos aos alunos uma cultura de responsabilidade e de valores, então todos tirarão maior aproveitamento, não só do ponto de vista da aquisição de competências, mas também do ponto de vista das qualidades humanas.

Entrevista de Luís Miguel Ferraz

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