>Atleta golpilheirense Olivier Pedroso ingressa no Centro de Alto Rendimento do Jamor
Olivier Pedroso nasceu em França, mas é golpilheirense desde os cinco anos. E é um nome promissor do atletismo nacional, tendo já no currículo o título de Campeão Nacional de 3000 metros obstáculos. Iniciou-se nesta modalidade desportiva com 14 anos, mas hoje, com 18, os Jogos Olímpicos constam já na lista dos seus objectivos. Estudante de Gestão no Ensino Superior e atleta a construir uma carreira profissional, concretizou este ano o sonho de “chegar em primeiro lugar à minha terra”, ao vencer a Prova Mestre de Avis.
Numa entrevista de Bárbara Abraúl, gentilmente cedida ao nosso jornal, revela em primeira-mão que acaba de ingressar no Centro de Alto Rendimento do Jamor, a “fábrica de campeões portugueses”.
Entrevista de Bárbara Abraúl
Quantas horas treinas por semana?
Treino, em média, três horas por dia, uma de manhã e duas ao final da tarde. Normalmente, faço os bidiários quatro vezes por semana. O domingo é a “folga”, o único dia em que tenho a certeza de que treino só uma vez.
Por que clubes já correste?
Actualmente corro pelo Maratona Clube de Portugal. Porém, iniciei-me na Juventude Vidigalense e agradeço muitíssimo ao Prof. Paulo Reis que sempre me apoiou. No que toca à próxima época, já recebi alguns convites importantes que estão a ser considerados, pelo que poderá haver novidades nesta matéria.
Quais são as provas ou competições em que já participaste e que consideras mais importantes?
O dia mais importante da minha curta carreira é, sem dúvida, o dia em que fui Campeão Nacional na disciplina dos 3000 metros de obstáculos, pois trabalhei quatro anos para conseguir esse objectivo. A primeira vez que representei Portugal teve, de igual forma, um grande valor para mim. A participação no Campeonato da Europa de Juniores em Novi Sad (Sérvia) foi um sonho tornado realidade, assim como o dia em que fiz os mínimos para esse mesmo campeonato da Europa. Também a minha estreia na 1ª divisão (equivalente à superliga no futebol), aos 17 anos, foi um ponto alto.
Existe algum momento que te tenha marcado de um modo mais especial?
Na realidade, até tenho muitos. O mais especial foi, sem dúvida, o de correr com as cores de Portugal. Mas existe um momento, tenho a consciência de que 99,9% dos atletas não diria o mesmo, que foi ganhar a geral da prova da minha terra (Mestre de Avis), sendo apenas júnior, que me realizou pessoalmente. Quando era mais novo pensava “um dia hei-de chegar em primeiro lugar à minha terra”, o que concretizei este ano. Também nunca esquecerei o meu primeiro dia em Lisboa: a poluição mal me deixava respirar e o meu treinador pôs-me logo a treinar com o olímpico António Travassos e outros dois colegas de treino que são profissionais. Eu tinha 17 anos e, como é óbvio, levei uma “coça”: fui o caminho todo a chorar para casa e essa semana foi muito difícil. Contudo, isso fez-me crescer e hoje penso que “eu quero treinar é com eles””. A minha primeira ida ao estrangeiro como atleta foi igualmente marcante, assim como correr ao lado do Rui Silva na prova que o homenageia, onde estavam milhares de pessoas a gritar “Vai Rui” – nunca tinha visto nada assim em Portugal. Há ainda a salientar o facto que ter conhecido o meu actual treinador (Prof. Osvaldo Apolinário) revolucionou completamente a minha forma de treinar e a forma como encaro o atletismo.
A minha grande referência é o Stefano Baldini, campeão olímpico da Maratona em 2004. Mas, logicamente, também admiro muito os portugueses Carlos Lopes e Rui Silva.
Agradeço sempre a Deus a preparação ter corrido bem e, naturalmente, peço-Lhe forças para honrar a camisola que visto e para que, caso ocorram dificuldades, não ter medo.
Tenho um cuidado geral com a minha alimentação, principalmente quando estou a competir. Na fase de treino gasta-se muito, pelo que também se come muito, e além disso mantenho uma atenção especial para com a hidratação. Ambos os aspectos são essenciais na parte do “treino invisível”, quando se quer evoluir.
A tua família apoia-te?
Sim. Não entendem algumas coisas específicas, porque “isto do atletismo” é muito mais do que correr, mas não me posso queixar e apoiam-me em tudo o que faço na vida.
Quais são os teus grandes objectivos?
O meu grande desejo inicial era levar o atletismo de uma forma profissional, o que acabou de acontecer com a minha integração no Centro de Alto Rendimento do Jamor (estou-vos a dar a notícia em primeira mão). Vou para a “fábrica de campeões portugueses” onde, sem dúvida, a residente mais ilustre é a super-campeã Vanessa Fernandes. Vou dedicar-me a 100% ao atletismo e já penso que tudo é possível: tenho o meu grande objectivo de carreira fixado, mas prefiro deixá-lo para mim e para o meu treinador, para não criar grandes expectativas, até porque só o espero realizar entre 2016 e 2020. Uma “meta” que pretendo atingir a longo prazo e que posso referir é, caso surja a oportunidade, participar nos Jogos Olímpicos em 2016, pois 2012 ainda é muito cedo. Quero ir aos Jogos com os 3000 m obstáculos, mas sonho, numa fase posterior, fazer a Maratona, a competição rainha de todos os desportos. A curto prazo, pretendo ir ao Europeu de Corta-Mato que se realiza em Dublin, no próximo mês de Dezembro.
O Centro de Alto Rendimento do Jamor recebe e prepara atletas para a participação em provas internacionais, como os Jogos Olímpicos. Nesta instalação estão presentes as condições necessárias para ter sucesso, tanto desportivo como nos estudos. As despesas de cada atleta são comparticipadas até 100% pelo instituto.
O que te motiva a “ir mais longe”? Alguma vez te sentiste desmotivado?
Primeiramente, queria ganhar na minha escola e a nível distrital, depois foi a minha cruzada a nível nacional… Agora estou na fase em que começo a olhar para os melhores europeus e quero derrotá-los. Quando se passa um patamar, quer-se sempre o outro que está à frente. Já me senti muitas vezes desmotivado, mas felizmente a última vez já foi há algum tempo.
O problema é que ficam as duas para trás, porque tento conciliar as duas e acabo por não estar ao nível que quero em nenhuma delas. No entanto, acho que este ano o atletismo se sobrepôs um pouco: em termos desportivos não fiz uma época de sonho, mas sim uma época surreal, este ano foi “super bom”. Agora já não vou ter tantas dificuldades, uma vez que vou alargar o meu prazo de finalização dos estudos para me dedicar à alta competição, mas sem esquecer a faculdade, claro. Esta sempre foi a minha vontade, porque já tinha percebido que para atingir os meus objectivos é impossível conciliar os estudos e a alta competição a 100%, devido a estágios, tempos de repouso, etc. Ser-se atleta é olhar esta profissão 24 horas por dia.
A principal é que às vezes até posso ser pisado e massacrado, mas tenho sempre de pensar positivo e que amanhã darei a volta por cima.
A sensação de ganhar é indescritível e, sem dúvida, vale a pena passar ao lado de muitas das diversões que a idade proporciona, o que para mim está longe de ser um sacrifício. Por outro lado, a derrota faz parte do crescimento e, como em tudo na vida, temos de aceitá-la para progredir.