(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>Inês Serra Lopes em colóquio na Batalha

>Inês Serra Lopes em colóquio na Batalha

>“Hoje, falamos a verdade e somos condenados”
“Hoje em dia, são os tribunais que fazem a verdadeira censura aos jornalistas”. Esta foi uma das afirmações iniciais da jornalista e comentadora política Inês Serra Lopes, num colóquio na Batalha, no passado dia 31 de Março. Com uma tónica acutilante e decidida, a actual repórter do I, que já passou pela direcção de jornais como O Independente e Semanário Económico, falava sobre “o estado da comunicação social em Portugal”, numa iniciativa inserida no âmbito da comemoração dos “100 Anos de Imprensa no Concelho da Batalha”.

Remetendo para casos concretos da sua experiência profissional, tanto nos jornais como em investigações que já publicou (Camarate, Freeport e Casa Pia são apenas alguns exemplos), Inês Serra Lopes afirmou categoricamente que os jornalistas são muito pressionados pelos vários tipos do poder instituído, desde o político ao económico, pelo boicote ao investimento publicitário que financia os meios de comunicação, mas sobretudo pelo judicial. “Antigamente fazíamos coisas injustas e éramos absolvidos, hoje falamos a verdade e somos condenados”, apontou a jornalista, a propósito da coação indirecta de que os jornalistas são alvo e que “os leva a não escrever todas as verdades que conhecem, com medo de serem condenados pelos tribunais”. E a prova de que é uma actuação injusta é que “o Estado perdeu todos os processos de recurso levados pelos jornalistas ao Tribunal Europeu”, afirmou, concluindo que “isso é pior do que a censura e leva a um medo, não por cobardia, mas para evitar consequências sérias na vida pessoal e profissional”.

Mas nem só os tribunais. “Manuela Ferreira Leiria tinha razão quando falava em ‘asfixia democrática’, que afecta não só os governos ou os partidos, mas a própria relação das pessoas com a política”, defendeu a jornalista. E acrescentou: “36 anos depois da Revolução, os donos da política estão a morrer e os novos não são brilhantes, transformando os partidos no cancro necessário para que haja democracia”. Deu como exemplo o caso PT/TVI que está na ordem do dia: “O problema não são as pressões, que todos sabemos que existem, o problema é as pessoas não resistirem e deixarem-se levar pelas pressões”.

Defendendo que “é preciso fazer algo pela democracia”, Inês Serra Lopes adiantou o projecto que alimenta de vir a constituir uma “associação de cidadãos, uma coisa não corporativa a que possam recorrer as pessoas interessadas na verdadeira discussão política”.

Em resposta a perguntas de algumas das cerca de duas centenas de pessoas presentes, a jornalista falou ainda de notícias difíceis que teve de escrever, como uma sobre o amigo Paulo Portas ou outra debaixo de pressões sobre o caso Freeport, mas também das mais agradáveis de fazer, como a entrevista em Timor a Xanana Gusmão. E deixou ainda a sua opinião sobre a ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social, “um corpo político onde ninguém discute a sério e que nuns casos vai além do que podia e noutros fica aquém do que devia”.

Para o futuro deixou um alerta: “Daqui a 10 anos, ou o Estado e os jornais se empenham em mostrar que a informação é importante, ou então a informação não passará de info-entretenimento”.

LMF

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