(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>Rui Veloso considera “excepcional” o concerto na Batalha e “malha” nas rádios nacionais

>Rui Veloso considera “excepcional” o concerto na Batalha e “malha” nas rádios nacionais

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Entrevista exclusiva ao jornal da Golpilheira

Rui Veloso, um dos nomes cimeiros da música portuguesa, foi o artista que encerrou as Festas da Batalha 2010, no dia 15 de Agosto. O concerto de cerca de duas horas fez vibrar as cerca de 15 mil pessoas que lotaram o recinto junto às Capelas Imperfeitas do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, onde era bem visível a variedade etária, desde as crianças de colo até aos que já eram adultos quando Rui Veloso actuou pela primeira vez na Batalha, em 1984.
O alinhamento musical percorreu também a longa discografia que marca a carreira deste músico, onde não faltaram clássicos como “Chico Fininho”, “Sei de uma Camponesa”, “Porto Côvo”, “Não há Estrelas no Céu” e “A Paixão”, até aos mais recentes “Lado Lunar”, “Todo o Tempo do Mundo” ou “Jura”. Acompanhado por seis excelentes músicos em palco, apresentou ainda a visita surpresa de Katia Guerreiro, que subiu ao palco para um “Porto Sentido” em dueto.
No final, Rui Veloso recebeu o Jornal da Golpilheira nos camarins, para uma entrevista exclusiva. Em tom coloquial e bem-disposto, começou por perguntar algumas informações sobre o Jornal, enquanto desfolhava a nossa última edição e nos dava os parabéns pela “carolice”. Depois, comentou o agradável “extra” do dueto com a Katia, que “correu muito bem e não estava no programa… não tínhamos combinado nada”.
Depois, falou com emoção da sua carreira, da actualidade da música portuguesa e do concerto “fantástico” desta noite. A única coisa que o “tirou do sério” e fez soltar algumas palavras mais azedas foi a falta de apoio das rádios nacionais aos músicos portugueses…

Entrevista de Ângela Susano e Luís Miguel Ferraz

Celebra este ano 30 anos de carreira. Ainda se lembra de como tudo começou?
Já foi há tanto tempo que nem me lembro bem. Começou quando a minha mãe veio a Lisboa trazer umas bobines minhas… umas gravações com duas guitarras e uma voz. Era uma coisa assim, um bocado incipiente, mas eles interessaram-se e gostaram muito do que ouviram. Eu fui apanhado ali no meio, tive que ir para Lisboa e fazer músicas em português, que não tinha feito. Depois, fui evoluindo e cá ando, 30 anos depois.

Com uma vida dedicada à música e 13 álbuns editados, como resumiria o caminho percorrido e a evolução do que significa para si a música portuguesa?
Quanto ao caminho… foi o caminho possível. Nós éramos um País muito afastado culturalmente da Europa e das coisas que se faziam lá fora. O País era muito deficitário em tudo o que diz respeito à música: instrumentos, estúdios, técnicos, tudo. Era muito incipiente. Melhorou bastante nos últimos 30 anos, felizmente, mas não foi nada fácil.
Actualmente, só tenho pena que os músicos portugueses ainda não tenham o apoio da nossa televisão, nem que seja a estatal, nem da rádio. Às vezes costumo dizer que os tipos lá na televisão e na rádio não gostam mesmo dos músicos. Eles gostam dos ingleses, têm lá as coisas inglesas que ninguém conhece.
Acho que, 30 anos depois, os músicos portugueses mereciam bastante mais de quem devia apoiar a música portuguesa. Infelizmente, eu estava a contar que nesta altura já tivéssemos uma rádio totalmente em português, nossa. Até porque somos nós que pagamos a rádio e os ordenados dos directores, com os nossos impostos. No entanto, eles têm um contrato qualquer com os ingleses e põem para lá música inglesa.

Falou dos músicos portugueses. Como avalia os artistas e grupos que foram surgindo entretanto ou que estão agora a começar?
Há muita coisa boa. No fado, apareceram muitos nomes de músicos e cantores bestiais. No pop, também temos projectos como “Diabo na Cruz” e outros com coisas muito giras. Nós temos muito boa música, eu acho. Temos bons músicos e boa música, apesar de sermos um país muito pequenino e da música portuguesa ser muitíssimo desapoiada.

Volta a referir a questão dos apoios… é assim tão gritante essa falha?
É uma vergonha! Nós temos uma rádio nacional, que não apoia os artistas portugueses. Se formos ver as rádios de música, que é a Antena 2 e a Antena 3, tudo o que é música folk ou fado, música popular portuguesa, tipo Brigada, que até são daqui ao pé, o Sebastião, os Gaiteiros, nunca passam nas nossas rádios, não entendo.

Mas essa selecção não passa pelo que as editoras querem promover?
Não. A rádio põe e dispõe, passa o que lhe apetece e mais nada. Os apresentadores estão completamente em roda livre, como se estivessem no café a discutir a música de que gostam, e não a apoiar a música portuguesa. No mínimo, deviam pôr lá pessoas para os substituir que gostassem de outras coisas, os que gostam de fado, os que gostam de rock, os que gostam de jazz, os que gostam de música popular, há gente para tudo e que sabia ir lá pôr música dessa com gosto. Não é como aqueles gajos que passam metade música inglesa e, ainda por cima, quando põem música portuguesa é cantada em inglês. Isso é do melhor…

Vê alguma solução?
Tinha de vir uma revolução de cima, dos directores. Mas o português, para dar um passo, para arriscar… nunca faz nada. Deixa estar assim, que está bom. Muda-se de partido, tira-se um, põe-se lá outro, fica tudo na mesma. A única coisa que eu posso fazer é “mandar vir”, dizer que aquilo é uma cambada de indigentes que não atam nem desatam. E não digo isto por eu não passar na Antena 3, onde estou proibido, não pela direcção, mas pelos apresentadores, porque eles é que mandam naquilo como se fosse a quinta deles. Porque sou eu, é o João Gil, o Vitorino… nenhuma dessa gente passa na Antena 3. Por muito estranho que pareça, passa o Sérgio Godinho e o Jorge Palma, porque cabem lá dentro das cabecinhas loucas deles.

Podemos garantir que na Rádio Batalha passa Rui Veloso e muita outra música portuguesa…
Acho muito bem! A questão é: como é que uma rádio de música nacional se pode dar ao luxo de não passar músicas minhas? Mas há algum país do mundo civilizado em que um artista da dimensão que eu tenho aqui, no seu próprio país não passe na rádio nacional? É impensável! É só aqui. É a mesma coisa que uma rádio americana nacional não passar o Bruce Springsteen, ou na Inglaterra não passar o Elton John. Cada qual na sua dimensão – eu na minha pequenina – mas no fundo a importância é essa. Eles dão-se ao luxo de não passar, é uma vergonha. Eu já estou farto de falar desses gajos… por mim, chegava lá e fazia uma limpeza que era uma maravilha… com uma vassoura, varria aquilo tudo!

Voltando à música… faz hoje precisamente 26 anos, no início da sua carreira, que actuou na Batalha. Lembra-se desse concerto?
Lembro-me perfeitamente de ter tocado aqui neste mesmo sítio, ao lado do Mosteiro. Mas já nem me lembrava da data… foi há muitos anos. Tenho uma ideia vaga… esteve pouca gente, porque estava muito mau tempo, choveu e estava um frio danado… foi uma coisa assim.

E hoje, como correu o concerto?
Foi muito bom, muito bom. Gostei imenso do público, foi muito bom mesmo, excepcional. Emocionei-me e tudo, lá no fim… o pessoal todo a cantar é muito bonito. No “Primeiro Beijo”, foi o máximo! Acho que o público também gostou, estávamos todos bem-dispostos.

Tocar “à sombra” de uma das maravilhas de Portugal é para si um privilégio?
É um privilégio, mas eu nem vi o Mosteiro. Só vi o palco e as pessoas, não vi mais nada. Mas que é lindo é, este Mosteiro é uma coisa extraordinária.

Durante o concerto, não falou de assuntos fora das canções. Não tem esse hábito?
Às vezes apetece, é conforme… quando há algum assunto mais candente. Mas a principal mensagem é a malta tocar bem. Mostrar que uma pessoa está a fazer aquilo que gosta, mas fazê-lo bem. A mensagem é essa.

E se lhe pedissem uma mensagem especial para os milhares de fãs que o seguem, sobretudo as gerações mais novas?
Que sejam felizes, trabalhem, procurem fazer aquilo que gostam para ajudar o País, que bem precisa da ajuda de todos. E que ajudem também a música portuguesa, consumam, vão aos concertos e comprem…

Quanto à sua música… o último álbum, “Espuma das Canções”, surgiu já em 2005. Podemos esperar alguma novidade para breve?
Estou a trabalhar uma ideia que me surgiu há tempos, que é voltar a pegar em temas meus antigos, alguns que ficaram em “lados B”, temas que eu gosto mas que não passaram muito na rádio. A ideia é refazer, rearranjar os temas e fazer parcerias, por exemplo, com a Katia Guerreiro ou o Camané, e também com músicos como o guitarrista Afonso Pais ou o Bernardo Sassetti. Queria fazer um álbum desses “lados B”, revestir aquilo tudo e tentar que funcionem como “lados A”, como se dizia antigamente, no tempo dos “singles”. São canções que ficaram um bocadinho metidas no fundo do armazém e que eu queria revisitar, ainda antes de me dedicar a fazer um disco novo.

Com uma carreira tão vasta e bem sucedida, ainda há lugar para sonhos?
Sim. Fazer músicas novas, fazer um disco novo, continuar a compor. Não sou muito ambicioso. Mudar a rádio portuguesa… isso sim era um sonho que eu gostava de ver, ainda em vida. Ver alguém com coragem para mudar e apoiar os artistas portugueses e os músicos. Eles precisam muito, porque, se estão com trabalho e querem ser profissionais e depois não passam na rádio, como é que se conhece o trabalho que eles fazem?…

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2 Comments

  1. >O Rui Veloso tem razão quanto fala das rádios , mas será que a musica portuguesa e mesmo boa, ponto de interrogação… -tenho o teclado marado, dai a falta de assentos.Eu acho que está cada vez pior, pelo que ainda ouço na rádio, as bandas novas que vão surgindo não têm qualidade nem dão gosto ouvir. Por isso não acho que a culpa seja das rádios.Cumprimentos, Paulo

  2. >Aqui no Brasil o que conheci de MPP conheci nas radios da internet, estranhamente na minha cidade há uma radio que ´´ toca musica portuguesa“ mas lá nunca ouvi nada que tivesse além de Amalia, que é maravilhosa, mas cadê a musica atual?Então fiz a minha parte, fui a radio sugeri, levei até musicas,e descobri que não aceitam sugestão alias não querem mudar nada , e assim vejo radios que transmitem musicas de portuguesa, aqui no Brasil ,fechando todos os dias.É triste mas e uma realidade.

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