>Exposição na Casa-Museu João Soares
A Casa-Museu Centro Cultural João Soares, nas Cortes, tem patente a exposição “Os Grafitos Medievais do Mosteiro da Batalha”.
A mostra aborda um assunto até hoje ignorado: o gesticular anónimo de quem esteve no Mosteiro durante a sua construção. Escultores, pedreiros, carpinteiros, arquitectos e monges fixaram nas paredes uma linguagem paralela, não a dos alicerces, das abóbadas e de um imaginário que iriam legar à posteridade, mas as dúvidas, as conversas, as ironias, as crenças de um quotidiano forjado numa das épocas mais criativas do viver português.
Graças a circunstâncias casuais – as características do calcário das pedreiras do Reguengo do Fetal –, as linhas espontâneas que traçaram ficaram gravadas através dos séculos na face rugosa das pedras. São esses registos ténues que são aqui ressuscitados numa aparição imprevista: a cegonha, símbolo da vigilância ascética dos frades que ficou inscrita à porta do seu dormitório; os barcos dos carpinteiros navais que levantaram os cimbres, ou seja, as estruturas de madeira para suporte das abóbadas; as volutas dos escultores de capitéis; os jogos riscados de improviso nas horas de descanso.
É uma outra Idade Média, que cruza os alvores do renascimento e nasce num sussurro íntimo, após 500 anos de silêncio.