(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
“Temos de criar uma Igreja diferente” (ou: O talento escondido do gago)

“Temos de criar uma Igreja diferente” (ou: O talento escondido do gago)

Assembleia vicarial com o bispo diocesano

Cerca de centena e meia de pessoas das paróquias da vigararia da Batalha (Aljubarrota, Batalha, Calvaria, Juncal, Pedreiras e Reguengo do Fetal) reuniram-se, na tarde de domingo 29 de Janeiro, no Centro Paroquial da Batalha, para uma assembleia presidida pelo bispo diocesano, D. José Ornelas Carvalho. O contexto foi o da caminhada sinodal em curso na Igreja, procurando propostas de renovação e animação das comunidades.

Ao chegarem, os participantes foram divididos por 8 grupos, pelos quais foram distribuídos quatro temas: Acolhimento, Conselhos Pastorais, Diaconado Permanente e Ministérios Laicais. Depois, em plenário, partilharam o resultado da sua reflexão.

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O acolhimento foi por todos considerado como a atitude fundamental a cultivar para tornar as comunidades mais vivas e inclusivas. Não apenas abrir a porta a todos, mas sair a convidar os que habitualmente não vêm, ouvir os que tenham algo diferente a dizer, procurar novas formas de encontro e dinâmicas de evangelização.

Neste contexto, os conselhos paroquiais são um meio importante para a participação diversificada. Não estão ainda a funcionar devidamente em todas as paróquias, mas devem ser promovidos como lugar preferencial de reflexão e organização pastoral, com membros representativos de todas as comunidades, faixas etárias e sensibilidades, de modo a ser o primeiro espaço de vivência da comunhão. A sua função precisa de ser mais divulgada entre os paroquianos, incluindo quando se colocam em prática as decisões aí tomadas.

O tema do diaconado permanente é dos mais difíceis de abordar, seja por não haver essa experiência na diocese, seja por se desconhecer o seu verdadeiro papel, não como “mini-padres” ou substitutos de reserva na sua falta, mas como verdadeiros servidores da evangelização e da celebração da fé. Pediu-se mais formação sobre o tema e uma acção concertada da pastoral da juventude e das vocações com a catequese e a liturgia. Temas paralelos foram o do celibato dos jovens que se sintam chamados ao diaconado e a abertura deste ministério ordenado às mulheres… a Igreja deverá continuar a ponderar estas questões de disciplina interna.

A formação foi também a pedra de toque para justificar o pouco envolvimento dos fiéis nos ministérios laicais, como sejam os leitores, cantores, acólitos, ministros da Comunhão, etc. Talvez descentralizar a oferta e encontrar novas formas de transmissão de conhecimentos da fé seja uma via, tal como a instituição “oficial” desses ministérios, de modo a responsabilizar os que os assumem e tornar mais visível e cativante o seu múnus.

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“A Igreja não é do padre”

Num segundo momento, o bispo diocesano fez o resumo e uma leitura pessoal desta partilha, que começou por agradecer aos presentes. “A Igreja não é do padre, a responsabilidade pelo seu dinamismo é de todos os fiéis”, começou por dizer, lançando o repto à resposta de cada um: “que lugar tenho eu?”. E continuou: “as comunidades têm de ser criativas e dinâmicas; temos de criar uma igreja diferente, redescobrir o que ela deve ser, chamar os jovens”, reconhecendo que “estamos a falhar na catequese após a adolescência”. E se achamos que somos poucos, “Jesus começou com menos”, pelo que o segredo está na convicção de Ele nos dará a força e a capacidade, sendo Ele também quem nos convida a “acolher a todos, procurar conhecê-los quando vêm de fora, escutar o que têm a dizer, sorrir quando se aproximam para a celebração ou para a vida da comunidade”.

Quantos aos conselhos paroquiais, D. José Ornelas sublinhou que devem ser grupos plurifacetados, “onde haja verdadeira partilha de competências e comunhão dos dons de cada um, aos níveis profissional, de coração e de fé”. O mesmo se diga dos conselhos vicariais, que defendeu como lugar importante para a organização num âmbito mais alargado e de interlocução entre os fiéis locais e o bispo.

Na mesma linha da comunhão, partilha e co-responsabilidade, falou dos ministérios laicais como expressão de vitalidade da Igreja, uma vez mais para se entender que “o padre é um ministério, mas não é o único”, incluindo na celebração da Eucaristia, “que deve ser o centro de toda a vida da comunidade”.

Por fim, sobre o diaconado permanente, o pastor considerou que é fundamental dar esse passo na diocese, “não por falta de padres”, mas porque representa “uma vocação essencial para a missão evangelizadora e para o serviço da caridade, no ambiente da celebração da fé e na acção no meio do mundo”.

Em resumo, a ideia de que “todos somos úteis e chamados a sair em missão” deverá ser o motor da renovação das comunidades. Como exemplo de que poderá haver talentos escondidos onde menos se espera, D. José Ornelas contou a “história/anedota” do gago que, num grupo de jovens enviados a vender bíblias, foi o mais bem-sucedido de todos. Como o conseguiu? É perguntar a alguém que tenha estado neste encontro. É que, depois de um lanche partilhado no final, todos saíram a evangelizar e estão ansiosos por contar como foi…

Luís Miguel Ferraz

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