No passado dia 12 de Março, a manhã foi dedicada a mais uma exploração na Natureza. Desta vez, partiu-se em busca das orquídeas silvestres no Reguengo do Fetal, com paragem obrigatória junto ao icónico gigante verde, o carvalho do Padre Zé. Nesta aventura, embarcaram 36 pessoas do concelho da Batalha e não só!
A actividade foi guiada por um naturalista local, o Delfim Ferreira, participante activo e assíduo das actividades do Aves da Batalha, que partilhou com carinho e dedicação, todo o seu conhecimento e muitas curiosidades sobre as espécies de orquídeas silvestres que fomos encontrando no percurso.
As orquídeas são plantas muito apreciadas em todo o mundo, nomeadamente as espécies ornamentais. Em alguns países, estas podem atingir preços bastante elevados. A baunilha é um dos principais produtos obtidos através de uma orquídea tropical.
As orquídeas selvagens são geralmente plantas mais discretas e existem em todos os continentes do planeta, excepto na Antárctida. Estas distinguem-se pela sua forma com três pétalas e três sépalas (peças florais externas às pétalas), sendo que uma dessas pétalas, o labelo, costuma sobressair e destacar-se.
A Primavera é a melhor estação para observar estas plantas em flor, nomeadamente em terrenos descampados e prados secos naturais, sendo as zonas calcárias, características da região, favoráveis para o seu desenvolvimento.
Para se reproduzirem, algumas das espécies silvestres de orquídeas assemelham-se a fêmeas de insectos, de forma a atrair polinizadores. Estas plantas desenvolvem-se a partir de um bolbo, por isso a sua recolha indevida leva ao desaparecimento da planta no local, colocando a população e a espécie em risco efectivo de extinção. A planta replantada não apresenta normalmente viabilidade. Em Portugal, dada a sua vulnerabilidade, estas espécies são protegidas por lei e, por esse motivo, não podem ser recolhidas da Natureza.
O grupo Aves da Batalha contribui para um projecto de ciência cidadã dedicado à Biodiversidade da Batalha, disponível na plataforma iNaturalist, na qual se encontram registadas 7 espécies de orquídeas silvestres no concelho, das 55 que existem em Portugal. A Cephalanthera longifolia, Aceras anthropophorum (erva-do-homem-enforcado) e a Barlia robertiana foram algumas das espécies de orquídeas silvestres observadas durante esta actividade.
A visita ao Reguengo do Fetal não podia deixar de passar pelo imponente carvalho do Padre Zé, um dos maiores carvalhos-cerquinhos (Quercus faginea) conhecidos na Península Ibérica. Este exemplar emblemático tem cerca de 460 anos, 21 metros de altura, 33 metros de largura da copa e 6,05 metros de perímetro à altura do peito. Não só pela sua dimensão, mas também pelas suas características, esta árvore é, só por si, “casa” de inúmeras outras espécies.
Na década de 40 do século XX, estava destinado a ser transformado em carvão, mas foi salvo pelo pároco local que pagou o seu valor em carvão para que se mantivesse de pé. A mesma sorte não teve uma árvore de semelhantes dimensões que estava ao lado e cujos vestígios da raiz foram recentemente encontrados.
Esta espécie de carvalhos não tem protecção legal e, por isso, a Junta de Freguesia do Reguengo do Fetal submeteu o pedido para a classificação desta espécie enquanto árvore de interesse público, dando continuidade à conservação e protecção deste valioso património natural. Dada a sua singularidade, a Junta de Freguesia pretende ainda candidatar este exemplar a Árvore do Ano de 2024, contando com o apoio do Aves da Batalha, tanto para a sua conservação, como para a dar a conhecer, tornando-a um verdadeiro embaixador da espécie e da região.
No passado dia 21 de Março, Dia Mundial da Árvore e Dia Internacional das Florestas, este carvalho foi um dos protagonistas de um artigo do jornal Público, sobre 3 árvores monumentais de destaque em Portugal.
Aves da Batalha