>A árvore deixou cair
Mais uma folha no chão.
O vento levantou bem alto
A folha no meio da luz amena
Que dourada pelo Inverno frio
Esse tempo de reflectir
De parar para fazer balanço
Do que tem sido o verde fluir da vida.
A folha passou por nós,
A abrir caminho para os nossos curtos passos.
A voar para longe,
A fugir por entre as sombras da nossa cidade
E deixar-se levar pela brisa mais forte,
De asas bem abertas
Em cambalhotas de felicidade,
Solta como um pássaro.
Depois de longas Primaveras,
Depois de tantos Verões,
Era finalmente a hora de partir,
Altura de nos deixar,
Por entre a cor nostálgica
Do azul cinzento do céu desta cidade
De cor de prata,
Sem um único sinal da partida,
Sem um único adeus
A folha voou mais alto ainda,
Subiu todos os prédios
Muito para lá das nuvens,
Muito para lá dos céus,
Ao som de uma flauta que chora
O Outono da vida,
Ao som da flauta que chora
A árvore vazia,
Que chora a saudade,
E subiu e continuou a subir,
Ao sabor de cada lua,
Ao sabor de cada tempestade,
Por muitos quilómetros fora,
Sob oceanos e marés
Planando frágil, planando firme,
Ao sabor do sopro de Deus
Por meio mundo fora.
Eu ergui a mão,
A tempo de apanhar a folha
Solta que voa rasante e livre,
E soltei-a no primeiro balanço do vento,
A tempo de dizer,
Resta a saudade num pensamento firme
E paz à alma que partiu.
José António Carreira Santos