>Hoje, nas minhas memórias, vou fugir aos assuntos escolares, para vos contar um pouco de como era o Carnaval quando eu era mais pequena.
Nunca brinquei muito ao Carnaval – naquela altura utilizava-se apenas a palavra “Entrudo”. Não havia disponibilidade económica para comprar ou mandar fazer fantasias, por isso, era preciso ser criativo e utilizar o que houvesse lá por casa: roupa mais antiga, chapéus velhos, etc. Que eu me lembre, só o meu irmão Luís é que era mais brincalhão e também o mais criativo, todos os anos conseguia surpreender a família com os seus disfarces.
No domingo e terça-feira de Carnaval, era costume os “entrudos” visitarem as casas ao anoitecer. Os donos da casa abriam a porta e convidavam-nos a entrar. Ofereciam comida e bebida. Por norma, nesse dia havia sempre chouriço, galo guisado, carneiro e bom vinho, só que para se saciarem com esses petiscos, eles tinham de tirar a máscara. Alguns faziam-se de difíceis e tentava-se a todo custo adivinhar de quem se tratava, embora por vezes, bastasse uma peça de roupa para os denunciar.
O que dantes era mais festejado pelos adultos, hoje é mais vivido pelas crianças. Hoje será muito difícil abrir a porta a um adulto mascarado, ou até mesmo sem máscara, devido à criminalidade actual. Já desconfiamos de tudo e de todos. Pelo menos as crianças ainda vão podendo ser príncipes ou princesas, heróis de banda desenhada ou bruxas, consoante a preferência de cada um…
O desfile da nossa querida vila da Batalha ainda vai fugindo ao colonialismo do Brasil, que se tem vindo a acentuar todos os anos no nosso país e que tira toda a graça do nosso Carnaval. É tempo de lembrar o seguinte provérbio: “Cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso”.
Até breve!
Filomena Monteiro