(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
>Agricultores agradecem a visita da máquina do milho

>Agricultores agradecem a visita da máquina do milho

>Rotinas de antigamente e tratamentos modernos

As vindimas já passaram e seguiram-se os milheirais. No passado dia 2 de Outubro, foi grande o alvoroço que se viveu na Golpilheira. Tudo porque veio uma grande máquina cortar todos os milheirais da freguesia, principalmente nos cultivos da Areeira e do Paul.

Helder, responsável por este debulhador, veio das Cortes e passou todo o dia de milheiral em milheiral, onde cada proprietário pagava dez euros pelo serviço.

Os milheirais eram cortados numa média de 10 a 15 minutos cada um, com o milho a ser arrancado, “esgravelhado” e os carolos deitados novamente à terra. No final, cada proprietário só tinha de aproximar o seu tractor, para a máquina descarregar o milho que estava no seu reservatório, com capacidade para quatro toneladas. Para os agricultores, depois deste processo, só lhes resta colocar a secar e limpá-lo.

Ao contrário de antigamente, onde se demorava semanas a fazer todo este trabalho, com esta máquina o trabalho resume-se a dois dias. É caso para afirmar que a tecnologia substituiu a mão humana. Mas a verdade, como nos diz Filomena Branco, “se fosse tudo feito à mão eu não semeava!”. Diamantino Grosso da Silva acrescenta que “cinquenta por cento dos terrenos já não são cultivados, assim com a máquina incentiva mais as pessoas… e este ano temos mais milho”.

O destino do milho depende da finalidade que cada um lhe pretende dar, mas a maioria dos proprietários diz que é para britar e fazer ração para a criação que têm lá por casa. Outra parte “para a farinha, mas isso é o milho branco”, acrescenta Fernando Bagagem. Os carolos, ou são deixados no terreno, ou apanhados e aproveitados para queimar. O “pasteiro” (planta) é igualmente deixado no terreno, ou apanhado para servir de alimento aos animais.

Tudo é diferente de antigamente. Contam os mais velhos que, depois de semeado e após uns quatro ou cinco meses, o milho era apanhado à mão e levado para as eiras. Depois, juntavam-se ranchos de pessoas, que de eira em eira iam à descamisada do milho, entre canções, danças e muito convívio. Depois, era malhado com moais por um rancho de homens. Ainda nas eiras, o milho, agora em grão, era estendido para secar e diariamente era mexido com os pés. Quando seco, era limpo com pás de madeira: atirava-se ao ar com as pás e depois o vento tratava de levar o lixo, isto nas eiradas grandes. Caso fosse pouca quantidade, era joeirado com um crivo.

Finalmente, o milho branco era para fazer farinha para a broa ou papas de esparregado e o milho amarelo era para britar para as galinhas. Os carolos eram para queimar e ajudar a aquecer as casas. As camisas eram para animais e também bem desfiadinhas para encher os colchões. Conta a Júlia da Cruz que “quando havia um casamento, as mulheres juntavam-se e desfiavam as camisas do milho para fazer um colchão, como forma de ajudar os noivos”. E ainda havia quem com as barbas do milho fizesse cabeleiras para as bonecas de trapos.

Os tempos foram evoluindo e começou a não ser necessário malhar o milho com paus, que foram substituídos por “esgravelhadeiras” manuais e, mais tarde, mecânicas. O milho deixou de ser limpo com pás e começaram a aparecer as “tararas”. Os colchões de camisas de milho foram substituídos por colchões em esponja. Ou seja, antes tudo era muito bem aproveitado, e actualmente a maioria das pessoas já não aproveita quase nada.

Hoje em dia, tudo está muito mais mecanizado ainda, como prova esta máquina, que realizou um trabalho fisicamente duro com uma simplicidade imensa e num tempo muito reduzido. Mas também é verdade que, se não houvesse este tipo de tecnologias, provavelmente já não teríamos agricultura.

Texto e fotos:
Catarina Bagagem

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