(Freguesia da Golpilheira • Concelho da Batalha • Distrito de Leiria)
 
Piloto da Golpilheira, Cesário Santos conquista Taça de Portugal em TT

Piloto da Golpilheira, Cesário Santos conquista Taça de Portugal em TT

Ao vencer na sua categoria a Baja de Portalegre, última prova do Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno, no último fim-de-semana de Outubro, o piloto Cesário Santos e o seu navegador, Alexandre Gomes, garantiram o título de vencedores da Taça de Portugal 2021.
No todo-o-terreno há muitas competições a decorrer em simultâneo, com vários títulos de campeão a atribuir. Para esta prova específica alinharam-se 7 equipas no início da época e chegaram 4 ao fim. O piloto golpilheirense e a sua Nissan Navara D21 distinguiram-se, com 4 vitórias em 5 bajas disputadas.

Para sabermos como foi esta experiência e receber este título, fizemos algumas perguntas a Cesário Santos.

Entrevista de Luís Miguel Ferraz

Como tomaste a decisão de começar a correr a um nível mais profissional?
Após algumas abordagens de quem compete há mais tempo, dizendo que eu estava mais que preparado para competir a nível de campeonato, e de há vários anos concorrer na edição das 24 Horas de Fronteira com bons resultados e rodeado de bons pilotos e bons mecânicos, dizendo-me que um dia deveria experimentar fazer uma prova ou duas, assim foi: comecei em 2020, na categoria T8 como foi publicado nas edições deste jornal, ficando classificado na 3.ª posição. Foi um campeonato meio confuso a nível de calendário de provas, devido ao aparecimento da pandemia, mas foi uma experiência brutal e aí comecei a perceber que, se calhar, as pessoas tinham razão, que até tinha jeito para a coisa. Aliás, sempre foi o meu desporto de eleição, como sabem todos os que me conhecem. E pronto, foi fácil juntar o útil ao agradável.

A inscrição nesta categoria tem a ver com a experiência ou objectivos dos pilotos ou equipas?
A pergunta em si diz a resposta. É uma das classes mais emblemáticas do campeonato nacional, onde só podem estar inscritos carros de igual para igual e, aí, quem vence terá o seu valor reconhecido como um bom piloto e bons mecânicos e não só pelo carro. Foi uma estratégica tomada para 2021 e pensada com quem me rodeia neste projecto, a maioria dos grandes pilotos começaram assim. E tínhamos duas opções: ou iriámos ficar por aqui ou ir mais além… e parece que vamos mesmo mais além em 2022.
Como se costuma dizer em bom português, foi uma cartada bem jogada. Tenho de agradecer aos que me indicaram o melhor trajecto: Nelson Falardo (Fera), a todos os mecânicos com grande experiência e muitos anos disto, ao Joel Marrazes, piloto e proprietário da viatura em que ando neste momento, ao Alexandre gomes, meu navegador, Luís Porém (ex-piloto) da Bomcar, ao grande Ricardo Porém, piloto com grande experiência que até já participou no Dakar e irá participar certamente mais vezes, ao Sérgio Brites e ao Mário Duarte (pilotos).

Este tipo de competições envolve grandes investimentos… como funcionam os patrocínios e investidores?
Sim, de facto, estas competições, como muitas outras, necessitam de muito investimento e, quando não tens a tua própria fonte de investimento, tens que ter uma boa base de conhecimento, mostrar a quem investe que andas bem e que queres ir mais além. De facto, após a última Baja de Portalegre e de me sangrar campeão, já fui abordado por duas ou três marcas de nome que estão interessadas em investir num carro melhor para 2022. Estamos muitos satisfeitos com a abordagem destes investidores. O nosso trabalho e a nossa conquista está a dar os merecidos frutos. Há diversos tipos de investidores, basicamente todos eles querem publicidade em troca para aparecerem na decoração do carro de corridas, pois quando andas na frente e vais ao pódio o teu carro é mais visto do que os outros. Resumindo, tens de andar bem e tens que ser reconhecido e despertar atenções para que esses investidores te procurem e aí aproveitar ao máximo para conseguires o máximo de apoio e tentar andar sempre na frente com bons resultados.

Como foi a sensação da primeira vez que venceste uma prova?
Muito engraçado e irónico… lembro-me de o meu navegador Alexandre ter dito: “olha, acabámos a prova” e, quando vínhamos na ligação das boxes, já em modo descontraído sem capacete, eu comentei: “ninguém nos passou na prova, se calhar até não andámos mal”. Nisto, liga-nos o nosso mecânico, Nelson Falardo, mais conhecido por Fera, e diz: “Parabéns, ganharam esta baja!”. Demos um grito, fumámos o nosso cigarrinho e estávamos os dois meios emocionados, mas com a aquela questão “ganhámos mesmo? será que não houve nenhum engano?…” Fiz uma videochamada, ainda dentro da viatura, para a minha família e nem eles queriam acreditar… a minha filhota só dizia: “Ganhaste, ganhaste… isso querias tu!”. São momentos que nunca esqueces. Após a entrega desse prémio e de cabeça fria é que percebi que ganhei. Não há impossíveis, temos de ser persistentes.

E como foi sendo a experiência de estar em primeiro e poder alcançar o título?
Além de saberes que até andas bem e estás em primeiro, a pressão aumenta. É normal… tens tudo de olhos postos em ti, à espera de um deslize numa má abordagem que te faça perder lugares ou mesmo desistir. Aqui entra o “psicológico”, sabes que tens toda uma equipa atrás de ti e que também já te diz que é para ganhar. Tens de ter um controlo psicológico muito forte, pois há alturas em que vais em plena corrida e só pensas em ganhar, já não por ti, mas por todos os que estão ali contigo, o navegador, mecânicos e possíveis investidores. Ou seja, sentes-te responsável por ganhar, para não desiludires a confiança que depositaram em ti. Mas, sim, foi fantástico perceber que afinal estava a conseguir lidar com a pressão.

Qual foi a prova mais difícil?
Foi a Baja de Loulé (Algarve), em que ficámos sem travões. Ainda tentámos ir até ao limite, usando a caixa de velocidades para reduzir, mas alguns quilómetros depois acabámos por ter de desistir. São decisões difíceis de tomar… lá está, tens de perceber que não adianta insistir. O nosso adversário mais directo venceu e perdemos o primeiro lugar nas contas do campeonato, mas não baixámos a confiança e, daí até à última prova de Portalegre, vencemos todas, não dando hipótese à concorrência.

Mais uma vez falamos de sensações… como foi subir ao pódio como vencedor da Taça de Portugal?
Um misto de emoções inexplicável. E irá ser mais ainda quando, no próximo dia 22 de Janeiro de 2022, for ao Salão Preto e Prata do Casino Estoril para a entrega anual de prémios…

Já depois deste título, voltaste a participar na mítica “24 Horas de Fronteira”, no final de Novembro. Como correu essa participação?
Após o fecho do campeonato, com 3 provas num mês, não estava a pensar ir este ano, visto ser tudo muito próximo e já tinha o meu objectivo alcançado. Mas há muitas coisas acima dos carros e dos ralis que falam mais alto… com o falecimento da nossa amiga Ana, esposa do Nelson Falardo, os mecânicos e pilotos juntámo-nos todos e decidimos ir em sua homenagem. Não poderia ter corrido melhor: terminámos em 23.º lugar da geral, onde participaram perto de 80 carros. As saudades que senti da voz da Ana… em todas as edições de 24 Horas de Fronteira em que participei, era ela que comunicava comigo para o carro a dar todas as instruções. A vida tem destas coisas e, como referi antes, além dos carros, da competição, etc., existem pessoas e nós, querendo ou não, ganhamos muitas amizades que levamos para a vida. Beijinho, Ana, és a nossa estrelinha!

E agora… já tens planos para a próxima época?
Como referi antes, quando ganhas e tens alguém interessado em investir em ti e percebes que até podes ter resultados bons, não podes hesitar. Todos nós, seres humanos, temos defeitos, temos medos, temos problemas, mas desistir, nunca!
O mês de janeiro será decisivo para a próxima época. Estão propostas na mesa para serem analisadas e o campeonato em 2022 deverá começar em finais de Fevereiro… ou irei defender o título na classe da Taça de Portugal, com o carro actual, ou irei para uma classe mais ambiciosa, com outro tipo de carro.
Talvez na próxima edição do Jornal já possa dar novidades…

Até lá, algo mais a dizer?…
Partilho um lema: quando Deus permite que passes por uma batalha, é porque Ele já preparou a tua vitória. E aproveito para desejar a todos os leitores um feliz Natal e um próspero Ano Novo.

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